Para marcar a celebração de um ano do Cannabis & Saúde, comemorado na quarta-feira, 10, o portal realizou um painel com o dr. Mário Grieco. Pós-graduado em Medicina Interna pela Universidade da Flórida (EUA), o médico atua no atendimento clínico e pesquisa de doenças neurológicas, com o intuito de melhorar a saúde e o bem-estar, e encontrou na Cannabis medicinal tratamento para diversas patologias.
Tratamentos com Cannabis medicinal
Em entrevista ao jornalista Marcus Bruno, editor do portal “Cannabis & Saúde”, Grieco destacou algumas características da planta da Cannabis.
“É uma planta fantástica que foi dada por Deus para nos ajudar, e tem várias atividades”, destacou. “As flores produzem a parte de medicamento: THC e CBD. Nas pequenas vesículas, chamada de tricomas, que existem dentro dela há esses dois principais canabinoides. Além disso, existem mais de 150 componentes canabinoides. Hoje eles estão sendo estudados e todos eles interagem para ter um efeito terapêutico.”
De acordo com Griecco, isso abre a possibilidade para tratamento de diversas doenças. “Quando me perguntam onde pode ser usado, a resposta mais simples e abrangente é: ela melhora a qualidade de vida dos pacientes de uma forma muito positiva”, disse, citando indicação contra insônia, ansiedade, depressão, doenças degenerativas, Alzheimer, parkinson, senilidade, epilepsia, esclerose múltipla, além de ajudar a evitar efeitos colaterais do outros tratamentos.
“Todo mundo sabe empiricamente da larica, que é o aumento do apetite. Todo usuário recreacional sabe que na hora que fuma, sente fome. Isso também é uma utilidade para a medicina, porque pacientes portadores de HIV, câncer, e outras doenças degenerativas sofrem muito, perdem muito peso, e a utilização da Cannabis medicinal ajuda nisso.”
Cannabis medicinal no Brasil
A Anvisa já catalogou cem doenças diferentes com evidências de que podem ser tratadas com Cannabis medicinal, no entanto, dos cerca de 500 mil médicos cadastrados no Conselho Federal de Medicina, apenas 2 mil prescreveu Cannabis em alguma ocasião.
“É difícil porque no Brasil foi liberado recentemente. Há cinco anos, se fosse prescrito produto canabinoide, corria o risco de perder a licença médica. Uma discriminação que existe há muitos e muitos anos”, disse Grieco. “As faculdades de medicina não falam sobre Cannabis medicinal. As informações tem que começar a aumentar. Precisamos mais de uma educação médica continuada. isso facilitaria para os médicos aprenderem a prescrever a Cannabis medicinal. Não é fácil. Nós estamos falando de 150 componentes, existe esse sistema endocanabinoide que é complexo, e realmente precisa de muito treinamento.”
“Cannabis Medicinal – Fatos além das controvérsias”
Para colaborar no processo de difusão das informações, Mario Grieco está concluindo o livro “Cannabis Medicinal – Fatos além das controvérsias”, em que compartilha sua experiência com mais de 400 pacientes já atendidos com Cannabis medicinal, e todo o respaldo científico que lhe garante a segurança e eficácia do tratamento, com mais de mil referências bibliográficas. Os leitores do “Cannabis & Saúde” podem baixar gratuitamente uma prévia do livro escrito pelo dr. Mario Greco.
Uso medicinal de THC
Entre os temas abordados no livro, as diferenças entre o uso medicinal do tetrahidrocanabinol e o canabidiol. “O THC causa mais o efeito psicótico porque age mais no cérebro. É o responsável pelo barato, pelas psicoses de quando usa muito recreativo, mas tem importância medicinal muito grande. Principalmente no tratamento de dores, depressão. É o THC que funciona muito bem”, explicou o médico.
Uso medicinal de CBD
“Já em estados de ansiedade, não funciona tão bem. Aí é o CBD que funciona bem. Ajuda a dormir e em várias outras doenças porque tem uma capacidade anti-inflamatória imunológica, ajudando a melhorar as enfermidades, funciona muito bem em doenças do sistema nervoso também. A principal diferença é que o CBD usado como medicamento, é praticamente isento de efeitos colaterais.”
CBD + THC
É bom lembrar que, quando se fala em medicamento de CBD ou THC, isso significa que possui uma maior prevalência desse determinado canabinoide, não necessariamente do composto isolado.
“Eles funcionam melhor combinados. O CBD age em cima do THC, diminuindo o efeito psicoativo. O THC ajuda o CBD em termos de potencial e aumento de efetividade. Os medicamentos mais utilizados são os chamados full spectrum, que tem THC, CBD, e todos os outros componentes da planta. Isolado, só o CBD, não tem sido tão utilizado.”
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Acesso à Cannabis medicinal
Segundo Mario Grieco, está cada vez mais fácil o acesso ao medicamento de Cannabis medicinal. “Hoje, a Anvisa, graças ao tremendo trabalho de mães com crianças epilépticas que brigaram muito e conseguiram aprovação na Anvisa para fazer a importação individual.”, conta. “Se um paciente tem a prescrição de CBD, até de THC, tem que ser aprovada pela Anvisa. Antes chegava a demorar três meses, agora têm sido feitas de forma regular.”
Apesar de alertas às contraindicações, como o uso de medicamentos com alto índice de THC em menores de 21 anos, pois o sistema nervoso ainda está em formação, Grieco observa em sua rotina resultados tão animadores, que busca compartilhar com o maior número de médicos.
“Acredito que é uma onda mundial. A maior incidência de solicitação médica tem sido porque os medicamentos convencionais não tem respondido. O paciente com Alzheimer, vendo que a doença está progredindo, apesar de uma série de medicamentos que dopa e transforma a pessoa, procura alguma alternativa. Não tenho dúvida que a Cannabis é essa alternativa”, concluiu Griecco.
“Vai chegar o dia que todo mundo vai prescrever Cannabis medicinal. Tratar diversos sintomas com um único medicamento é fantástico. Não existe outro medicamento que pode melhorar tanto a qualidade de vida das pessoas quanto a Cannabis medicinal.”
