A princípio, as circunstâncias da vida guiaram a trajetória de João Gabriel Pacca. Observar a mãe, que sempre lutou com uma condição cardíaca chamada Tetralogia de Fallot, e o gosto em ajudar o próximo deixaram evidente qual trajetória seguir: a Cardiologia.

“De fato, ter uma paciente de Cardiologia em casa sempre chamou minha atenção para a especialidade. Nesse sentido, essa é uma condição que, se não é tratada, costuma ser incompatível com a vida. Ela operou aos sete anos, depois aos 13 anos, e a última foi em 2015, quando eu já era cardiologista. Assim, desta vez, pude estar com ela.”

“Foi um privilégio. Costumo dizer que já me realizei na Cardiologia quando tive a oportunidade de escolher a equipe cirúrgica, a que cuidou dela no pós-operatório, e estive presente na cirurgia de peito aberto, para troca de uma válvula.”

Cannabis e Noronha

Posteriormente, com a “missão” cumprida e impulsionado por alguns casos próximos de violência na cidade do Rio de Janeiro, em 2017, se inscreveu em um processo seletivo para trabalhar em Fernando de Noronha (PE). “Era solteiro e fui para ficar seis meses. Fiquei seis anos.”

“No quinto ano em que estava lá, conversando com um amigo da ilha, comentou que tinha conhecido um médico que trabalhava com Cannabis medicinal. Desde a formação, eu lembro de ter aula de bioquímica e farmacologia e falavam de receptores canabinoides, mas na época ninguém sabia para o que servia.”

Curioso, ele começou a estudar e terminou pós-graduado em Medicina canabinoide, em 2020. “A gente vive um boom de quadros e ansiedade e depressão. Isso está intrinsecamente relacionado com questões cardiológicas.”

“O paciente ansioso tende a ter palpitação, que é uma queixa frequente, e pode estar em um contexto arrítmico e ter repercussão na pressão arterial. Muitas vezes, abordar a ansiedade, a síndrome do pânico, com Cannabis, de maneira adjuvante ou não, pode vir a ter repercussão interessante, pela perspectiva cardiovascular.”

Além da cardiologia

Há um ano e meio, Pacca é plantonista no CTI de Cardiologia de um hospital em Santos (SP), onde vive desde pouco antes do nascimento de seu primeiro filho.

Também atende como cardiologista em uma clínica particular, mas cada vez mais investe no atendimento de pacientes em busca de tratamento com Cannabis medicinal por telemedicina. João Pacca é médico do Instituto de Terapias Integradas (ITI).

“Um aspecto interessante sobre a Cannabis medicinal é o perfil dos pacientes. Geralmente, ou ele buscou vários tipos de tratamentos e não teve o benefício esperado, ou não quer fazer uso das medicações alopáticas tradicionais. O paciente tem direito de escolher seu tratamento.”

“A gente tem um leque enorme de atuação com a Cannabis medicinal. Ansiedade, depressão, dor crônica, Parkinson e algumas demências, como Alzheimer. Esse leque de possibilidades terapêuticas que se abrem com a Cannabis é muito interessante.”

“Além disso, é extremamente segura e traz muita tranquilidade para trabalhar. Todos os efeitos são dose dependentes e quando há qualquer efeito adverso, é só diminuir a dose um pouquinho, que tende a se resolver.”

Ser humano complexo

Não é somente a qualidade de vida de seus pacientes que a Cannabis ajuda a transformar. “Fiz Cardiologia, fiz formação para prescrever Cannabis com fins medicinais, e fiquei com um sentimento de que uma coisa está aqui e outra está ali. Faltava algo no meio, para tentar unir essas habilidades.”

“Estou cursando uma pós-graduação de medicina integrativa, que busca justamente resgatar essa visão do paciente como um todo. Eu, na Cardiologia, estou tratando o coração, mas o ser humano é mais complexo.”

“A Cannabis tem essa possibilidade integrativa muito bacana, pois temos o sistema endocanabinoide abrangente espalhado pelo corpo todo, tanto no sistema nervoso central, quanto em órgãos e no sistema nervoso periférico. De alguma maneira, a gente acaba trazendo benefício de maneira geral para o paciente, não só tratando uma doença.”

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Ele é médico do ITI – Instituto de Terapias Integradas, uma clínica especializada em tratamento canabinoide, que reúne médicos especialistas, coordenados por um sistema de acompanhamento da saúde de cada paciente.

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