Pesquisadores da Universidade do Colorado, nos EUA, fizeram um estudo sobre como a Cannabis comprada nos dispensários legais no estado poderia ajudar pacientes com câncer. Após o período de duas semanas, os cientistas identificaram uma melhora significativa nos indicadores de dor, sono e função cognitiva.

A longo prazo, quanto mais a dor dos pacientes diminuía, mais a cognição parecia melhorar. Apesar de alguns se sentirem afetados pelos efeitos psicoativos do THC no início, os participantes relataram que houve mais clareza nos pensamentos e alguns indicadores confirmaram, como os tempos de reação.

Estudo com produtos de dispensários

Elaborar conhecimento científico sobre Cannabis é complicado, inclusive nos EUA. A lei federal faz com que as pesquisas precisem ser feitas com produtos farmacêuticos. Portanto, boa parte dos estudos analisam medicamentos prescritos como dronabinol e nabilona.

No entanto, no estado do Colorado é possível expandir esse repertório graças as leis estaduais sobre a Cannabis que estão em vigor desde 2014. O uso adulto da planta foi regulamentado e existem estabelecimentos comerciais com autorização para comercializar a planta em vários formatos como flores, óleos, comestíveis e etc.

Para realizar o estudo How cannabis may ease ‘chemo brain’ and improve sleep for cancer patients, os pesquisadores utilizaram um método particular. Após selecionar 25 pacientes com câncer para o estudo com Cannabis, eles analisaram os níveis de dor, cognição e sono dos participantes. Em seguida, os pacientes escolheram os produtos de sua preferência em um dispensário local, com uma variedade de cerca de 18 marcas e diversos produtos como chocolates, gomas de mascar, tinturas e óleos. Alguns optaram por produtos com alto teor de CBD e outros com alto teor de THC.

Cannavan, a van para pesquisas da Universidade do Colorado

Então, para analisar os efeitos dos produtos com Cannabis nesses pacientes com câncer, os pesquisadores utilizaram um “laboratório móvel”. Na verdade, é uma van modificada para levar um laboratório portátil na carroceria e que ganhou o apelido de “Cannavan”. Os cientistas dirigiam até os pacientes para avaliá-los em suas casas.

Dessa forma, os pesquisadores conseguiam levantar os dados sobre a saúde dos participantes com precisão e quase que imediatamente.

Embora mais estudos da ação da Cannabis no câncer sejam necessários, o artigo levantou uma questão interessante. Embora a Cannabis, sobretudo com alto teor de THC, afete a memória de curto prazo (informações guardadas há poucos minutos), ela também é boa para a memória levando em consideração um espaço maior de tempo.

Benefícios da Cannabis para pacientes com câncer

Além dos efeitos do THC para a cognição, os participantes que optaram por produtos com maior teor de CBD relataram menos dor e que conseguiram dormir melhor.

Os autores dos estudo concluíram:

“Neste estudo de produtos comestíveis de Cannabis do mercado legal em pacientes com câncer, duas semanas de uso ad libitum de Cannabis foram associadas a melhorias na intensidade e interferência da dor, qualidade do sono e funcionamento cognitivo subjetivo. É particularmente digno de nota que o alto uso de CBD, e não de THC, durante esse período de duas semanas foi associado a melhorias mais acentuadas na intensidade da dor e na qualidade do sono. O uso agudo de Cannabis diminuiu a intensidade da dor, diminuiu algumas medidas da função cognitiva objetiva e aumentou os sentimentos subjetivos.

As descobertas sugerem que estudos conduzidos em períodos de tempo mais longos com amostras maiores que permitam a capacidade de testar os efeitos moderadores do tipo de produto (por exemplo, inalado versus comestível), tipo/estágio do câncer e características demográficas são um próximo passo importante na compreensão dos benefícios potenciais e danos do uso de cannabis para cuidados paliativos em pacientes com câncer.”

Angela Byran, uma das coordenadoras da pesquisa, teve uma experiência com Cannabis e câncer antes de iniciar o projeto. Ela foi diagnosticada com câncer de mama e recorreu a produtos comestíveis com alto teor de THC e de CBD após a cirurgia e durante a quimioterapia. Embora ela não estivesse completamente livre da dor, ela não precisou tomar nenhum opiáceo durante esse período.

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