Em época de fim de ano, pacientes que fazem uso medicinal da Cannabis questionam: “há efeito colateral em misturar bebidas alcoólicas em excesso e remédio à base da planta?

Fim de ano é sinônimo de confraternização, muita comida e geralmente, bebida em excesso.

As pessoas esquecem, mas o álcool é uma substância psicoativa, que afeta o Sistema Nervoso Central de diferentes maneiras e intensidades, em cada pessoa de forma distinta.

A droga, socialmente aceita na maior parte das nações, costuma estar presente em todas as festividades de Natal e Ano Novo, em quantidades bem superiores aos jantares ‘convencionais’.

Pode misturar CBD e bebida alcoólica?

Nesse cenário de possíveis exageros, pacientes que fazem o uso medicinal da Cannabis querem saber: beber um pouco mais pode atrapalhar o tratamento com Canabidiol (CBD)?

De acordo com a neurologista, Dra. Vanessa Matalobos, essa é a pergunta que predominou nos consultórios nesse mês de dezembro.

Sim, com moderação!

“Fim de ano chegando e a pergunta que mais ouvi no consultório foi: Doutora, posso tomar uma cervejinha fazendo uso do Canabidiol? Minha resposta é sim! Mas tudo com moderação”, ensina a médica.

Segundo a especialista, a moderação é que vai impactar no resultado dessa mistura. “Tudo, a gente sabe que é dose dependente. Precisamos sempre respeitar os limites do corpo e da mente”, alerta.

Pode potencializar ou reduzir o efeito

A neurologista explica que o uso de ambas substâncias, de forma conjunta, pode acentuar os efeitos do álcool, como por exemplo: acelerar o processo de embriaguez, aumentar o sono, deixar a fala ainda mais arrastada e dificultar a concentração.

“Não está contraindicado. Como a maioria das medicações são metabolizadas pelo fígado e o álcool também, o efeito pode ser diminuído ou potencializado, tudo a depender da dose e do paciente”.

Tudo em excesso faz mal

A médica diz que até o consumo de água, uma substância vital para os humanos e animais, se houver excesso, pode trazer problemas.

“Se fizermos a ingesta de 70 litros de água em 24 horas, com certeza, nós teremos um distúrbio hidroeletrolítico e repercussões sistêmicas negativas no corpo”, orienta a médica.

A Cannabis se conecta com os receptores, o álcool não

Guardando as devidas proporções, com o álcool, o princípio é o mesmo. “Eu tenho muito mais medo dos efeitos do álcool sobre o corpo, do que os da Cannabis. Porque para essa planta, nós temos os receptores que se conectam aos fitocanabinoides, então não tem como nos fazer mal”.

Por outro lado, o corpo não possui receptores para álcool. “As pessoas não se preocupam com o Zolpiden em associação ao álcool e nem com os antipsicóticos. Mas se preocupam com o Canabidiol, que é um o último dessa fila para fazer mal a alguém”, detalha a médica.

O álcool não é inofensivo

Para a especialista, a legalidade do álcool e a sua presença em eventos sociais muitas vezes contribuem para a percepção de que o consumo dessa substância é inofensivo ou mesmo normal.

Entretanto, a neurologista afirma que é importante reconhecer que o álcool é uma droga e seu uso pode ter impactos significativos na saúde individual e coletiva da sociedade.

6 milhões de brasileiros bebem demais

No Brasil, uma análise realizada a partir de dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que mais de 6 milhões de brasileiros, ou 4% da população adulta, possui um padrão para um consumo exagerado e perigoso de bebida alcoólica, com risco de dependência.

“A moderação é fundamental, para garantir que todos possam desfrutar das festividades de maneira saudável e segura. A Cannabis de forma medinal, com o uso oral e dosado, não tem o mesmo efeito do uso recreativo e é muito segura”, diz a médica.

Efeitos colaterais: uso recreativo + álcool

É sabido que o uso recreativo da Cannabis, associado ao álcool, pode trazer alguns efeitos indesejados, quando há exageros, como por exemplo: tontura, batimentos cardíacos acelerados, baixa de pressão, náuseas e vômitos.

O impacto varia de acordo com a quantidade consumida, a rapidez com que foi ingerida, o peso corporal e a tolerância individual. A ingestão de alimentos e água também influência.

Comer antes e hidratar durante

A médica orienta estar sempre com o estômago cheio, antes de iniciar a ingestão de bebida alcoólica e buscar a hidratação, especialmente com água, ao longo da noite.

Vale lembrar que o consumo excessivo de álcool, durante as festividades de fim de ano, pode conduzir a situações perigosas, como acidentes de trânsito, brigas e intoxicação.

Celebração consciente

Portanto, é essencial cultivar uma cultura de celebração consciente, sem colocar a saúde em risco.

Para completar, é importante estar atento aos sinais de alerta, envolvendo problemas com o álcool entre amigos e familiares.

Se alguém próximo demonstrar comportamentos repetitivos de exagero e sinais de dependência, não hesite em buscar ajuda profissional.

Estudos científicos, inclusive, demonstram que o Canabidiol pode auxiliar no tratamento de dependentes químicos. Isso porque ele reduz o desejo de consumo de álcool e outras drogas, como cocaína e crack.

O uso medicinal da Cannabis já é legal no Brasil

O uso medicinal da Cannabis no Brasil já tem regulamentação da Anvisa, por meio da Resolução da Diretoria Colegiada RDC 660 e  RDC 327. No entanto, é essencial ter uma prescrição médica para usar produtos à base da planta.

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