O Brasil soma hoje mais de 2 milhões de pessoas vivendo com demência, dentro de um cenário global de 55 milhões de casos. É por isso que o Setembro Lilás 2025 marca um chamado à sociedade brasileira: é preciso falar sobre Alzheimer e outras demências.
“Perguntar sobre Alzheimer. Perguntar sobre demência”
A campanha, organizada pela Federação Brasileira das Associações de Alzheimer (Febraz) em sintonia com a Alzheimer’s Disease International (ADI), aposta no poder da informação para reduzir estigmas e ampliar o acesso a cuidados. Este ano as ações incluem palestras, rodas de conversa, caminhadas e atividades culturais em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belém.
Monumentos iluminados de lilás reforçam a mensagem de apoio, enquanto a sociedade é convidada a “Perguntar sobre Alzheimer. Perguntar sobre demência”. Segundo o própio site da Febraz, o gerenciamento das demências requer esforços multilaterais em nível global, regional e local.
Para a presidente da Febraz, Elaine Mateus, “reabilitar, no contexto das demências, não é recuperar o que foi perdido, mas valorizar o que permanece, preservar a autonomia e promover bem-estar”
E, apesar da mobilização, dados revelam um cenário preocupante: quase 80% das pessoas com a condição no Brasil ainda não têm diagnóstico, e a maioria nunca acessou serviços de reabilitação. Além disso, um estudo, publicado recentemente na revista The Lancet Regional Health – Americas, reforçou a urgência do debate sobre a condição. A pesquisa mostra que quase 60% dos casos de demência no Brasil poderiam potencialmente ser evitados ou adiados com o controle de fatores de risco conhecidos, especialmente baixa escolaridade na juventude, perda de visão não tratada na velhice e depressão na meia-idade.
O desafio das políticas públicas
Embora a Lei nº 14.878, que institui a Política Nacional de Cuidado Integral em Alzheimer e outras Demências, tenha sido sancionada em 2024, sua implementação segue paralisada
Para a Febraz, é urgente fortalecer protocolos específicos para o diagnóstico precoce, capacitar profissionais da atenção primária e criar fluxos eficientes de encaminhamento
Outro ponto crítico é o impacto sobre cuidadores, em sua maioria mulheres, que assumem sozinhas responsabilidades sem suporte do Estado. A entidade defende a criação de centros-dia, unidades de atendimento especializado e serviços de convivência, além de políticas públicas que reconheçam o recorte de gênero e promovam apoio estruturado às famílias.
Conversamos com exclusividade com Elaine Mateus, presidente da Federação Brasileira das Associações de Alzheimer (Febraz).
Quais são as principais ações da FEBRAZ neste Setembro Lilás para ampliar a conscientização sobre o Alzheimer no Brasil?
“A Febraz é a entidade que representa oficialmente as associações brasileiras junto à Alzheimer’s Disease International (ADI), organismo internacional responsável pelas campanhas globais de conscientização sobre a doença. Graças a essa atuação, o Brasil conta hoje com uma campanha nacional unificada, que articula diferentes parceiros em torno da mesma causa e mensagem, fortalecendo o impacto das ações em todo o país.
No Setembro Lilás, mês dedicado à conscientização sobre o Alzheimer no Brasil, a Febraz coordena uma série de iniciativas em rede com suas associações filiadas e outras instituições parceiras. Entre as atividades estão campanhas informativas nas redes sociais, lives educativas, rodas de conversa, eventos públicos e ações de mobilização que buscam desmistificar a doença e reforçar a importância do diagnóstico nos estágios iniciais, do cuidado humanizado e do apoio às famílias, a cuidadores e cuidadoras.
Além do trabalho de disseminação de informações, a Febraz também intensifica, neste período, sua atuação em espaços de incidência política — como audiências públicas, grupos de trabalho e lançamentos de documentos estratégicos — com o objetivo de sensibilizar gestores públicos e contribuir para a formulação de políticas que garantam atenção integral às pessoas que vivem com demência no Brasil”.
Como a entidade avalia os desafios atuais no diagnóstico precoce da doença, especialmente na atenção primária de saúde?
“Avaliamos que ainda há grandes desafios para o diagnóstico em tempo oportuno da Doença de Alzheimer, especialmente na atenção primária. A taxa de subdiagnóstico no Brasil é alta e precisa ser enfrentada com políticas públicas efetivas. Essa taxa decorre, principalmente, da falta de capacitação dos profissionais para identificar os sinais iniciais da demência, aliada ao pouco conhecimento da população e ao estigma que ainda cerca a doença.
O diagnóstico nos estágios iniciais é fundamental, pois é a partir dele que se pode garantir o acesso a direitos, planejar os cuidados e promover uma melhor qualidade de vida tanto para a pessoa com demência quanto para sua rede de apoio. A Febraz defende, portanto, o fortalecimento da formação das equipes de saúde, o desenvolvimento de protocolos específicos para a linha de cuidado da demência e a criação de fluxos de referência mais eficientes entre a atenção primária e os serviços especializados.
Além disso, a entidade entende que o reconhecimento das demências no interior das políticas públicas voltadas às pessoas com deficiência e às Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) é uma estratégia essencial para ampliar o diagnóstico e garantir o acesso a serviços e políticas de saúde, assistência e proteção social deforma mais estruturada e efetiva”.
De que forma o Alzheimer impacta não apenas os pacientes, mas também familiares e cuidadores, e quais políticas públicas poderiam ser fortalecidas nesse contexto?
“O Alzheimer transforma a vida não só da pessoa diagnosticada, mas de toda a sua rede de convivência. Familiares e cuidadores — em sua maioria mulheres — assumem responsabilidades e a ausência de suporte gera grande sobrecarga emocional, física e financeira. Além disso, são também as mulheres que representam a maior parte das pessoas com a doença, o que torna urgente o fortalecimento de políticas públicas com recorte de gênero.
A Febraz defende a ampliação de serviços voltados diretamente às pessoas com demência — como centros-dia, unidades de atendimento especializado e estratégias de estimulação e convivência — e também o suporte estruturado aos familiares, cuidadores e cuidadoras, especialmente aqueles e aquelas não remuneradas. Sem esse reconhecimento e sem políticas que enxerguem o potencial de vida plena das pessoas com diagnóstico, os cuidados seguem recaindo exclusivamente sobre as famílias. E a sobrecarga não vem da pessoa com Alzheimer, mas da ausência de apoio do Estado.
É preciso superar a lógica do cuidado informal isolado e construir políticas que promovam autonomia, dignidade e qualidade de vida para todas as pessoas envolvidas”.
A pesquisa científica no Brasil sobre Alzheimer ainda enfrenta muitos desafios. O que a senhora considera essencial para impulsionar avanços nessa área?
“Os estudos sobre Alzheimer têm avançado no Brasil, especialmente em áreas como diagnóstico, biomarcadores e possíveis tratamentos. No entanto, ainda é essencial ampliar o financiamento público e privado para a pesquisa científica, com continuidade e foco estratégico.
Nós temos defendido frente à Febraz que esse investimento não se limite apenas a ensaios clínicos e estudos biomédicos, mas que inclua também investigações em áreas como antropologia da saúde, psicologia social, serviço social, gerontologia, enfermagem, bioética e políticas públicas. Essas disciplinas são fundamentais para compreender a demência para além do cérebro, colocando a pessoa — e não apenas a doença — no centro do cuidado e do conhecimento produzido.
Somente com uma abordagem verdadeiramente interdisciplinar, que considere os contextos sociais, culturais e afetivos em que a demência ocorre, será possível desenvolver políticas e práticas mais humanizadas, eficazes e respeitosas com as pessoas que vivem com Alzheimer e suas famílias”.
Quais são os principais mitos ou estigmas que ainda precisam ser combatidos em relação ao Alzheimer?
“Um dos principais mitos é que o Alzheimer faz parte do envelhecimento natural — o que não é verdade. Outro estigma comum é acreditar que a pessoa com Alzheimer perde completamente sua identidade. Nós reforçamos que o cuidado humanizado e o acesso a informações corretas ajudam a combater esses equívocos e promover uma convivência mais digna e respeitosa”.
Estudos vêm investigando o uso de canabinoides no manejo de sintomas como agitação e distúrbios de sono em pessoas com Alzheimer. Qual é a visão da FEBRAZ sobre o potencial e os limites dessa abordagem terapêutica?
“A Febraz acompanha com atenção o avanço das pesquisas sobre o uso de canabinoides, como o CBD e o THC, no contexto das demências. É importante esclarecer que, até o momento, não há evidências robustas de que essas substâncias possam modificar o curso da doença ou melhorar a memória de pessoas com Alzheimer. Alguns estudos preliminares sugerem que o canabidiol pode auxiliar na redução da agitação ou de distúrbios do sono em determinados casos, o que pode representar algum ganho em conforto e manejo comportamental. Ainda assim, essas evidências são iniciais e requerem mais investigação.
A posição da Febraz é de cautela, baseada em evidências científicas. Entendemos a busca das famílias por alternativas, mas reforçamos que qualquer uso de cannabis medicinal deve ser feito exclusivamente com acompanhamento médico especializado, dentro dos critérios éticos e legais, e com clareza sobre riscos e benefícios.
Além disso, reafirmamos a importância das intervenções não medicamentosas como estratégia prioritária e frequentemente mais eficaz para o manejo de sintomas comportamentais, como agitação e distúrbios do sono. Ambientes acolhedores, rotinas estruturadas, atividades significativas e abordagens psicossociais individualizadas têm se mostrado fundamentais para promover bem-estar e qualidade de vida.
Nosso compromisso é com o cuidado ético, seguro e centrado na pessoa. O debate sobre novas possibilidades terapêuticas é importante, mas deve ser conduzido com responsabilidade, honestidade científica e sempre com foco na dignidade da pessoa que vive com demência”.
Conheça as evidências científicas emergentes
Nos últimos anos, a ciência tem investigado os efeitos dos canabinoides no sistema nervoso central. Um estudo publicado no Journal of Alzheimer’s Disease mostrou que o Canabidiol (CBD) tem propriedades neuroprotetoras, podendo reduzir processos inflamatórios e o acúmulo de beta-amiloide, proteína associada à progressão da doença. Pesquisadores observaram que, em modelos animais, o CBD contribuiu para preservar funções cognitivas e reduzir sintomas comportamentais.
Um estudo publicado na revista Alzheimer’s Research & Therapy trouxe evidências promissoras sobre o uso do CBD no tratamento de sintomas da doença. A pesquisa, realizada por cientistas da Universidade de Barcelona, demonstrou que o canabidiol atua em diversos mecanismos biológicos associados à condição, proporcionando alívio e indicando que ele pode transformar a rotina de pacientes e cuidadores.
Por fim, aqui no Brasil, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), em Foz do Iguaçu, tem se destacado em estudos sobre o papel da Cannabis medicinal no manejo de sintomas neurodegenerativos. Pesquisadores da instituição exploram como os canabinoides modulam o sistema endocanabinoide em pacientes com Alzheimer, investigando potenciais benefícios na redução da agitação e no suporte ao equilíbrio emocional dos cuidadores. “O estudo mostrou que a Cannabis é o melhor tratamento atual que tem na clínica para Alzheimer”. As palavras, repletas de motivação e orgulho, são do professor da UNILA, Francisney Pinto Nascimento, autor do “Cannabinoid extract in microdoses ameliorates mnemonic and nonmnemonic Alzheimer’s disease symptoms: a case report”.
A pesquisa brasileira publicada no Journal of Medical Case Reports, mostrou que pequenas doses de Cannabis tratam Alzheimer e revertem déficit de memória. “Este estudo é um marco pois é o primeiro que demonstra que a Cannabis pode tratar Alzheimer. E, mais do que isso, ajuda a manter o que os outros medicamentos também mantém e reverte os danos de memória do Alzheimer, conforme os testes realizados”.
CBD age em várias frentes contra os sintomas do Alzheimer, diz estudo
O papel dos canabinoides no tratamento do Alzheimer
Pesquisas anteriores já haviam apontado que os canabinoides, substâncias presentes na Cannabis, podem trazer benefícios no manejo do Alzheimer. Esses compostos mostraram potencial para amenizar sintomas que costumam acompanhar a doença, como:
- Distúrbios do sono (insônia, sono fragmentado)
- Alterações no apetite e problemas alimentares
- Irritabilidade e agitação
No entanto, é fundamental lembrar que qualquer terapia com derivados da Cannabis deve ser realizada sob supervisão médica especializada, garantindo tanto a segurança quanto a eficácia do tratamento. Além disso, a receita é uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para adquirir os medicamentos de forma legal.
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Conheça as evidências científicas emergentes



























