Um estudo revelou que consumir canabidiol (CBD) após comer alimentos ricos em gordura pode aumentar sua absorção pelo corpo em até 17 vezes. Os pesquisadores observaram que a gordura não apenas eleva a quantidade de CBD que chega na corrente sanguínea, mas também prolonga a sua ação no organismo.
Ou seja, se você quer potencializar os efeitos do CBD, preste atenção no que está no seu prato.
Os resultados desse estudo são especialmente relevantes para quem usa CBD para tratar condições de saúde que exigem uma dosagem estável, como dor crônica, epilepsia e ansiedade.
Canabinoides e a afinidade com gordura
O CBD é um dos compostos ativos da Cannabis e tem ganhado popularidade por seus benefícios no tratamento de diversas condições de saúde. Assim como outros canabinoides, ele não se dissolve em água, mas sim em gordura, por causa de uma característica chamada lipofilicidade.
As moléculas de CBD são como “ímãs” que se ligam mais facilmente às moléculas de gordura do que às de água. Por isso, os medicamentos à base de Cannabis costumam ser formulados com óleos vegetais — como azeite de oliva ou óleo de coco — para facilitar a absorção e aumentar a biodisponibilidade.
Em média, quando uma pessoa toma um medicamento à base de CBD em jejum, apenas cerca de 6% da substância ativa é absorvida pelo corpo. Nesse sentido, pesquisadores holandeses decidiram realizar um estudo para analisar se o consumo de alimentos gordurosos antes da ingestão de CBD poderia melhorar essa absorção.
Comer primeiro, tomar CBD depois
O estudo envolveu participantes saudáveis que receberam uma dose única de 70 mg de CBD em cápsulas. O experimento foi realizado em duas situações:
- Em jejum;
- Após uma refeição rica em gordura.
Os pesquisadores coletaram amostras de sangue ao longo de 48 horas para medir a concentração de CBD e seu principal metabólito, o 7-hidroxi-canabidiol (7-OH-CBD).
A refeição rica em gordura continha cerca de 800 calorias e incluía:
- 250 ml de suco de laranja
- 250 ml de leite integral
- 2 fatias de pão
- 15 g de alface
- 16 g de queijo
- 18 g de bacon crocante
- 30 g de tomate
- 10 g de maionese
- 166 g de ovos mexidos
- 240 ml de água
Por que evitar consumir CBD em jejum
Os resultados foram claros: a refeição gordurosa aumentou significativamente a absorção de CBD. A concentração máxima do canabinoide no sangue foi 17 vezes maior quando ingerido após a refeição, comparado ao jejum.
Além disso, a exposição total ao CBD foi quase 10 vezes maior após a refeição.
Outro detalhe curioso foi que, em alguns participantes, os níveis de CBD no sangue subiram, caíram e depois voltaram a subir horas depois. Esse fenômeno pode estar relacionado à forma como o CBD é transportado pelo sistema linfático ou à recirculação da substância entre o fígado e o intestino.
Por que isso acontece?
De acordo com os pesquisadores, a afinidade natural do CBD com a gordura explica os resultados. Quando consumido com uma refeição rica em gordura, ele é absorvido mais facilmente pelo intestino e chega à corrente sanguínea em maior quantidade.
Além disso, a gordura pode retardar o metabolismo do CBD no fígado, permitindo que o canabinoide permaneça ativo no organismo por mais tempo.
O estudo também destacou que outros compostos presentes no extrato de Cannabis, como os terpenos, podem influenciar essa absorção. Por exemplo, o β-cariofileno e o α-humuleno — presentes no extrato usado no estudo — são conhecidos por inibir enzimas hepáticas que metabolizam o CBD, o que pode aumentar ainda mais sua absorção e biodisponibilidade.
Como otimizar o tratamento com CBD por meio da alimentação
Portanto, consumir CBD após uma refeição rica em gordura pode melhorar significativamente sua eficácia, permitindo que doses menores tenham efeitos mais potentes e duradouros.
Ao mesmo tempo, o fenômeno do “segundo pico” observado no estudo sugere que o CBD pode permanecer no corpo por mais tempo do que se pensava, especialmente quando consumido com alimentos gordurosos.
Diante disso, os pesquisadores recomendaram que médicos e pacientes considerem essas informações no planejamento do tratamento com CBD.
“Profissionais de saúde e usuários de CBD devem estar cientes de que consumir CBD com uma refeição aumenta significativamente sua biodisponibilidade e padronizar a ingestão de CBD nas refeições é importante para atingir efeitos consistentes e ideais.”
A alimentação e o sistema endocanabinoide
Os resultados do estudo holandês reforçam a importância da alimentação nos tratamentos com os compostos da Cannabis. Em entrevista ao Cannabis & Saúde, a nutróloga Patricia Savoi destacou que uma dieta equilibrada pode potencializar os efeitos terapêuticos dos medicamentos à base de canabinoides.
“Estudos demonstram que uma dieta rica em ácidos graxos (como ômega 3 e 6), por exemplo, desempenha um papel importante no controle da inflamação, do estresse oxidativo e do sistema endocanabinoide. Um bom exemplo disso é a dieta mediterrânea que em sua composição possui alimentos excelentes para o sistema endocanabinoide, por serem ricos em ômegas e em gorduras polinsaturadas.”
Alimentos que favorecem o sistema endocanabinoide
Com o auxílio da Dra. Patricia Savoi, listamos alguns alimentos ricos em ácidos graxos e que podem contribuir para um bom funcionamento do sistema endocanabinoide.
Ricos em ômega-3
- Salmão
- Sardinha
- Linhaça
- Chia
- Nozes
- Ostras
Ricos em ômega-6
- Ovos
- Óleo de semente de cânhamo
- Grãos integrais
- Carne de aves
Chocolate: um outro aliado
Outro alimento que potencializa os efeitos da Cannabis é o chocolate. Ao consumir versões com menos açúcares, como o chocolate 70% ou mais, alguns compostos ajudam na biodisponibilidade dos canabinoides no corpo, como explicou a Dra. Patrícia.
“O cacau também contém dois outros compostos que potencializam os efeitos da Cannabis: a N-oleoiletanolamida (OEA) e a N-linoleoiletanolamina (LOEA), que ajudam a prevenir a degradação dos canabinoides no corpo.
Além disso, o cacau é rico em triptofano, precursor para produzirmos serotonina, um dos neurotransmissores responsáveis por desencadear sentimentos de felicidade.”
Além dos óleos: outras formas de utilizar a Cannabis
É importante lembrar que o estudo analisou cápsulas de CBD para uso oral, porém existem outras formas de utilizar o canabinoide em tratamentos para a saúde.
- Pomadas e cremes: para alívio localizado em dores e inflamações
- Inalação (vaporizadores): CBD vai direto para a corrente sanguínea pelos pulmões
- Comprimidos com nanotecnologia: novas técnicas para aumentar a biodisponibilidade do CBD e torná-lo solúvel em água
Como iniciar um tratamento com Cannabis
Entre as diversas opções para utilizar a Cannabis em tratamentos para a saúde, todas têm um ponto em comum: a necessidade de ter o acompanhamento de um médico durante todo o processo. É fundamental que um profissional da saúde oriente desde o início, na escolha do tipo de produto, dosagem e expectativas. Além disso, essa é também uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para adquirir os medicamentos legalmente.
Então, o primeiro passo para iniciar um tratamento com medicamentos à base de canabinoides é marcar uma consulta com um médico experiente nesse tipo de prescrição. Para isso, acesse a nossa plataforma de agendamento. Lá, você encontra mais de 300 profissionais de diversas especialidades, todos preparados para avaliar o seu caso e recomendar o melhor caminho. Acesse já e marque sua consulta!
