O uso de medicamentos à base de Cannabis em cavalos ganhou visibilidade recentemente com o caso de Hope, em Florianópolis. O animal foi encontrado abandonado, com a perna em carne viva, e diagnosticado com sarcoide equino, um tipo agressivo de câncer de pele. Com orientação veterinária, Hope passou a receber gotas de um óleo rico em canabinoides e a reação foi surpreendente: a ferida começou a cicatrizar e o tumor a regredir.
Histórias como essa têm despertado o interesse de veterinários e tratadores em entender como o canabidiol (CBD) age em cavalos e qual é o seu nível de segurança. Nesse sentido, um estudo publicado no Journal of Veterinary Pharmacology and Therapeutics revelou dados sobre efeitos, absorção, metabolismo e segurança do CBD e do ácido canabidiólico (CBDA) em equinos.
Os resultados mostraram que o uso controlado de desses compostos é seguro, e que o CBDA pode ser ainda mais promissor do que o CBD.
A biodisponibilidade dos canabinoides
O CBD é um dos compostos mais estudados da Cannabis, amplamente utilizado para reduzir ansiedade, inflamações e dores crônicas em humanos e animais. Já o CBDA é sua forma ácida, naturalmente encontrada na planta antes de passar por aquecimento.
Nos seres humanos, tanto o CBD quanto o CBDA, quando ingeridos, sofrem com o chamado “metabolismo de primeira passagem”, processo em que o fígado destrói parte da substância antes dela chegar ao sangue. Estima-se que apenas cerca de 6% dos canabinoides chegam à corrente sanguínea após passar pelo fígado.
Analisando o metabolismo dos canabinoides em equinos
A pesquisa Differences in Plasma Exposure of Cannabidiol and Cannabidiolic Acid Following Oral Administration to Horses foi conduzida com cavalos que receberam, em momentos diferentes, doses orais de 3 mg/kg de canabidiol, ácido canabidiólico e placebo, com intervalos de uma semana. Durante sete dias, os cientistas coletaram sangue e urina para medir as concentrações dos compostos e avaliar alterações fisiológicas.

Principais resultados:
- O CBDA foi absorvido mais rapidamente, atingindo picos de concentração entre 0,7 e 1 horas após a administração.
- O CBD levou de 1,5 a 4 horas para atingir o pico e apresentou níveis muito menores.
- Nenhum dos compostos causou alterações nos exames de sangue ou sinais de toxicidade.
De acordo com o estudo, menos de 15% do canabidiol administrado por via oral atinge a corrente sanguínea dos cavalos.
Por outro lado, o CBDA apresentou até 67 vezes mais concentração plasmática que o CBD, mesmo em doses equivalentes, o que indica melhor absorção e menor degradação.
Ambos foram bem tolerados, reforçando que o uso desses canabinoides em equinos é seguro, desde que sob acompanhamento veterinário.
Implicações para a saúde e esporte equestre
Esses resultados são importantes para garantir tratamentos eficazes e evitar riscos. Além disso, a pesquisa ajuda a esclarecer dúvidas sobre testes antidoping em competições equestres, já que a Federação Equestre Internacional financiou parte do estudo.
O destaque, porém, ficou com o CBDA. Graças à alta absorção e eficiência, ele pode atingir níveis terapêuticos com facilidade, tornando-se um candidato promissor para o tratamento de dores, inflamações e outros distúrbios em cavalos.
Estudos anteriores já haviam apontado potencial analgésico e antiemético (contra náuseas) do CBDA. No entanto, sua instabilidade química ainda limita o uso. Por isso, os cientistas sugerem que o CBDA-metil éster, uma versão mais estável da molécula, como possível caminho para terapias veterinárias futuras.
Mesmo com os resultados promissores, os pesquisadores reforçam que é essencial seguir critérios clínicos e éticos rigorosos antes de recomendar o uso desses produtos.
No Brasil, uso veterinário já tem regulamentação da Anvisa

Desde 2024, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autoriza o uso de medicamentos à base de Cannabis por veterinários. A medida abriu espaço para que esse tipo de tratamento chegue a mais animais e impulsionou novas pesquisas na área.
Estudos recentes já haviam apontado que o canabidiol pode reduzir dores e inflamações em cavalos com artrose, além de melhorar o bem-estar de animais com comportamentos estereotipados.
Casos como o de Hope mostram que, com acompanhamento profissional e base científica, o CBD pode representar uma alternativa segura e eficaz para o cuidado e a recuperação dos equinos.
Uso medicinal da Cannabis exige orientação
Com o avanço das pesquisas e da regulamentação do uso veterinário, a Cannabis se consolida como uma alternativa terapêutica promissora, unindo ciência, segurança e compaixão com o bem-estar animal. Importante: nunca dê produtos com canabinoides a animais sem orientação profissional.
A Anvisa também autoriza o uso de medicamentos à base de derivados da Cannabis em humanos e a exigência é a mesma: orientação médica. Portanto, se você, humano, quiser experimentar os benefícios desse tipo de tratamento, acesse já a nossa plataforma de agendamento. Lá, você pode marcar uma consulta com especialistas experientes nesse tipo de terapia. Conte com a nossa equipe para iniciar de forma responsável e segura.