Um grupo de pesquisadores brasileiros desenvolveu uma pomada que combina canabidiol (CBD) com o antibiótico mupirocina, oferecendo uma alternativa promissora para combater bactérias resistentes. O estudo foi conduzido por cientistas do Centro Universitário INTA, em parceria com a Universidade Federal do Ceará e a Universidade Federal Rural de Pernambuco. A pesquisa resultou inclusive em um pedido de patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
O canabidiol potencializando o poder da mupirocina
O estudo brasileiro investigou o potencial do canabidiol, um dos compostos da Cannabis, como reforço para a mupirocina, antibiótico amplamente utilizado em pomadas para tratar infecções de pele. A ideia foi unir a ação antibacteriana clássica do medicamento com as propriedades anti-inflamatórias, antibiofilme e permeabilizadoras do CBD.
Os testes foram realizados contra a Staphylococcus aureus, bactéria que habita naturalmente a pele. Em condições normais, ela é inofensiva. No entanto, quando há ferimentos, cortes ou queimaduras, o microrganismo pode invadir o tecido e causar infecções.
Os pesquisadores analisaram também cepas resistentes à meticilina (MRSA), versões mais resistentes associadas a infecções persistentes e quadros hospitalares graves. Essas cepas são difíceis de eliminar devido à formação de biofilmes, estruturas que funcionam como uma barreira protetora contra medicamentos e o sistema imunológico.
Menos bactérias, menos biofilmes
Após testarem diferentes formulações, a mais eficaz continha 2% de mupirocina e 4% de canabidiol. O produto reduziu significativamente o número de bactérias viáveis e apresentou forte ação antibiofilme, dificultando que as colônias se estruturassem e sobrevivessem.
Os resultados foram expressivos inclusive contra as cepas resistentes, como destacaram os autores:
“Este estudo demonstra que a combinação de mupirocina e CBD em uma formulação tópica aumenta a atividade antibacteriana e antibiofilme contra S. aureus, incluindo cepas resistentes. A formulação apresentou características físico-químicas favoráveis para aplicação dérmica e apresentou eficácia microbiológica superior em comparação com qualquer um dos agentes usados isoladamente.”
Como age a dupla de canabidiol e mupirocina
De acordo com o estudo, o mecanismo de ação da combinação entre canabidiol e mupirocina é sinérgico, ou seja, o efeito conjunto é maior do que a soma das partes.
A mupirocina bloqueia uma enzima essencial para a produção de proteínas bacterianas, impedindo a multiplicação dos microrganismos.
Já o CBD altera a integridade da membrana celular bacteriana, facilitando a penetração do antibiótico. Além disso, o canabidiol interfere na formação de biofilmes e reduz a atividade metabólica das bactérias, tornando-as mais vulneráveis ao tratamento.
Na prática, o canabidiol potencializa o alcance e a eficácia da mupirocina, inclusive em cepas resistentes. Desse modo, é possível o uso de doses menores de antibiótico, reduzindo o risco de efeitos colaterais e do desenvolvimento de novas resistências.
Segundo os autores, a combinação reduziu a concentração mínima inibitória e a concentração bactericida mínima da mupirocina, reforçando o efeito sinérgico.
CBD: um novo aliado da pele saudável
O CBD vem ganhando espaço na dermatologia por seus efeitos terapêuticos amplos. Além da ação antibacteriana, estudos indicam benefícios na regulação da oleosidade, redução de inflamações e melhora na cicatrização, o que o torna um ingrediente versátil para produtos dermatológicos.
No contexto de infecções de pele, o uso do CBD como adjuvante pode representar uma estratégia sustentável, com menor risco de induzir resistência e grande potencial de aplicação clínica.
Além disso, as combinações de canabinoides com outros compostos também são promissoras no desenvolvimento de cosméticos que fortalecem a barreira natural da pele.
Uso seguro e regulamentado pela Anvisa
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