A dermatite atópica, também conhecida como eczema, é uma doença de pele caracterizada por coceira intensa, vermelhidão, ressecamento e inflamações. Pode começar na infância e seguir até a vida adulta, trazendo grande impacto na qualidade de vida.
Os tratamentos convencionais geralmente incluem o uso de cremes hidratantes e corticoides tópicos, que ajudam a controlar os sintomas. No entanto, o uso prolongado de corticoides pode causar efeitos colaterais indesejados, como mudanças na textura da pele e maior risco de infecções. Por isso, cresce o interesse por abordagens complementares mais seguras e eficazes.
Pesquisadores brasileiros publicaram no Journal of Cannabis Research uma revisão das evidências científicas sobre o uso de canabinoides — da Cannabis, sintéticos ou os produzidos pelo próprio corpo — no manejo da dermatite atópica.
Os resultados são considerados promissores: essas substâncias parecem atuar em diferentes frentes para aliviar os sintomas da condição.
A motivação pessoal por trás da pesquisa
O pesquisador Adriel Aparecido Stoco, um dos autores do estudo, contou que o interesse pelo tema surgiu de uma experiência familiar.
“Uma pessoa da minha família recebeu o diagnóstico ainda na infância. Hoje, com 19 anos, ela carrega na pele as marcas de uma doença que foi muito pouco foi controlada por abordagens terapêuticas convencionais, como anti-histamínicos e glicocorticoides.
Por ser uma pessoa de pele negra, as cicatrizes formadas são mais evidentes e que afetam muito aspectos psicossociais. O meu trabalho foi dedicado à história de vida dela.”

Adriel Aparecido Stoco analisou evidências científicas sobre o uso de canabinoides no manejo da dermatite atópica
Como os canabinoides agem na pele
De acordo com os resultados do estudo, os canabinoides podem ajudar a controlar a dermatite atópica de várias maneiras:
- Efeito anti-inflamatório: reduzem a produção de substâncias inflamatórias
- Alívio da coceira (prurido): interagem com receptores nervosos ligados à coceira
- Ação antioxidante: protegem as células contra danos causados por radicais livres
- Melhora na hidratação da pele: estimula a produção de ceramidas (gorduras da barreira cutânea) e aumentam a expressão de aquaporinas (proteínas que ajudam a transportar água entre as células)
- Efeito antimicrobiano: alguns canabinoides combatem bactérias como o Staphylococcus aureus, frequentemente associada a casos mais graves de dermatite
Esses efeitos ajudam a explicar o interesse por formulações tópicas com canabinoides, como cremes e pomadas. Ensaios clínicos apontaram melhoras nos sintomas, principalmente na coceira e na hidratação da pele.
PEA: a solução produzida no próprio corpo
Além dos compostos vindos da planta Cannabis, o estudo também destacou a palmitoiletanolamida (PEA), uma substância produzida naturalmente pelo corpo humano que interage com o sistema endocanabinoide.
A PEA tem propriedades anti-inflamatórias e antiprurido, atuando em canais iônicos ligados à sensação de coceira. Além disso, ajuda a potencializar a ação de outros canabinoides (o chamado “efeito entourage”), o que pode aumentar a eficácia do tratamento.
De acordo com Stoco, futuras pesquisas poderiam ampliar o repertório de canabinoides para tratamentos mais assertivos para a dermatite atópica:
“Os resultados foram surpreendentes, pois os fitocanabinoides e endocanabinoides, com destaque para CBD e PEA, mostraram potencial para controlar sintomas da doença, como coceira, inflamação e pele seca.
Outros canabinoides menos estudados, como canabigerol (CBG), canabicromeno (CBC) e canabinol (CBN), também merecem atenção da comunidade acadêmica para futuras pesquisas”, destacou Stoco.
Por que os canabinoides funcionam no tratamento da dermatite atópica

Os efeitos descritos no estudo acontecem porque a pele possui receptores do sistema endocanabinoide em células da epiderme, fibras nervosas, glândulas e no sistema imunológico.
Quando substâncias como CBD ou PEA interagem com esses receptores, há uma modulação das respostas inflamatórias e nervosas. Isso ajuda a reduzir a inflamação, diminuir a coceira, equilibrar a barreira da pele e até combater microrganismos prejudiciais.
Desafios e próximos passos
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores lembram que ainda são necessários mais estudos clínicos para comprovar a segurança e a eficácia dos canabinoides no tratamento da dermatite atópica.
Por outro lado, no Brasil, já existem produtos tópicos com canabinoides disponíveis. Para Stoco, essa pode ser uma alternativa em casos de difícil controle.
“Na falta de resultados com tratamentos convencionais, os profissionais devem propor novas alternativas, que podem incluir o uso de canabinoides, desde que com responsabilidade e empatia pelo paciente, algo que somente se adquire com educação e formação continuada.”
Ele também deixou um recado para quem convive com a doença:
“As pessoas com dermatite atópica devem compartilhar a possibilidade de usar canabinoides no tratamento com seus respectivos dermatologistas para que seja tomada uma decisão que avalie os riscos versus benefícios de tal abordagem. Consultar especialistas da área médica que trabalham ou tenham experiência com canabinoides para uso tópico também é recomendado.”
Como iniciar um tratamento com canabinoides para dermatite atópica
Para experimentar os benefícios dos produtos com canabinoides para tratar a dermatite atópica, é fundamental ter o acompanhamento de um dermatologista experiente nesse tipo de prescrição. O profissional deve avaliar a condição e os tratamentos em andamento para propor uma abordagem complementar. Além disso, a receita médica é uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para adquirir os medicamentos legalmente.
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