Resumo da revisão de literatura, publicada em 2020 pelo “Brazilian journal of development”: Ansiedade: o uso da Cannabis sativa como terapêutica alternativa frente aos benzodiazepínicos
A ansiedade é um estado emocional com componentes psicológicos e fisiológicos, podendo ser benéfica ou prejudicial à saúde do ser humano.
A ansiedade chamada de patológica é a doença em si e não o estado passageiro de estar ansioso, apresenta-se como um sentimento de medo, apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo e algo desconhecido ou estranho, interferindo na qualidade de vida, no controle emocional, bem como desempenho diário do indivíduo.
Essa doença, acredita-se, é causada por falhas ou mudanças de alguns neurotransmissores. Quando presente, ocorre respostas psicofisiológicas que alteram a atividade do sistema nervoso autônomo, e então há mudanças no sistema cardiovascular, aumentando a pressão arterial e frequência cardíaca, nas glândulas sudoríparas que produzem mais suor, nos músculos que apresentam movimentos espasmódicos, há sensação ofegante/e ou suspiros, xerostomia entre outros sintomas.
A identificação desses sinais e sintomas pode direcionar ao tratamento precoce, diminuindo a gravidade e comorbidades da doença.
Segundo dados publicados em 2017 pela organização mundial de saúde (OMS) mostram que a prevalência mundial do transtorno de ansiedade é de aproximadamente 3,6% (264 milhões). No Brasil, o transtorno de ansiedade está presente em 9,3% da população geral, possuindo o maior número de casos de ansiedade entre todos os países do mundo (costa et al., 2019). Estima-se que 2% da população brasileira adulta faz uso crônico de benzodiazepínicos (BZD) geralmente mulheres e com número crescente conforme o envelhecimento.
Os benzodiazepínicos foram desenvolvidos na década de 1960, e até hoje são frequentemente utilizados no tratamento de diversas doenças psiquiátricas, incluindo a ansiedade. Porém, esses medicamentos podem ocasionar maior risco de intoxicação e efeitos adversos como por exemplo: sonolência, amnésia anterógrada, além da maioria dos pacientes não saber o risco do uso indiscriminado destes fármacos. Seu uso crônico pode resultar em dependência química e a abstinência pode ocasionar irritabilidade, insônia, sudorese, dor no corpo e até mesmo convulsões.
Em estudos realizados, apontaram-se benefícios do canabidiol (CBD) quanto ao seu potencial ansiolítico e menor recorrência de efeitos colaterais em comparação aos benzodiazepínicos. Mesmo em concentrações mais elevadas não foram detectados importantes efeitos colaterais ou tóxicos.
A cannabis sativa é composta por mais de 400 substâncias, as mais conhecidas são o tetrahidrocanabidiol (THC) e o canabidiol (CBD), nas quais apresentam efeitos benéficos na ansiedade.
O sistema endocanabinoide, presente no nosso corpo, é considerado um regulador fisiológico homeostático único e difundido. Sua principal função é a neuromodulação, capaz de gerar efeitos que alteram a percepção da dor, fome, ansiedade, aprendizado e memória. Além disso, influencia no controle motor, na imunidade, na proliferação de células tumorais e, inclusive, no processo inflamatório.
Os CB1 e CB2 são receptores canabinóides do tipo 1 e tipo 2, respectivamente. Os CB1 estão distribuídos preferencialmente no sistema nervoso central (SNC), principalmente na pré sinapse. Quando ativados diminui a liberação de neurotransmissores tais como GABA, noradrenalina, serotonina, dopamina e glutamato, podendo influenciar a cognição, percepção, funcionamento motor, apetite, sono, neuroproteção, neurodesenvolvimento e liberação hormonal. Quando o THC- delta9 se liga ao receptor CB1 medeia a maioria dos efeitos no SNC, inclusive os efeitos psicomiméticos dos canabinóides. Os CB2 estão localizados principalmente no sistema imunológico e hematopoiético e em algumas áreas do SNC, havendo uma expressão aumentada deles em determinados estados patológicos, tal como a dor crônica. Nesse contexto, os receptores canabinóides interferem com várias vias de sinalização para exercerem os seus efeitos nos diferentes tecidos e órgãos (Nunes, 2016; Costa, 2017).
Pesquisas também apontam que o Canabidiol tem uma afinidade com o receptor serotoninérgico 5-HT1A, que confere o efeito ansiolítico (oliveira & lima, 2016; Silva et al., 2017)
Conclusão
A Cannabis Medicinal, em especial seu fitocanabinoide canabidiol (CBD) apresenta potencial ansiolítico com menos efeitos colaterais em comparação aos benzodiazepínicos. Sendo assim, uma grande aliada no combate ao uso crônico dessas medicações, devido suas propriedades terapêuticas no tratamento de doenças neuropsiquiátricas e por diminuir os sintomas durante o desmame medicamentoso de benzodiazepínicos.
Porém, ainda são necessários mais estudos clínicos para definir a dose terapêutica adequada e os riscos relacionados ao seu uso a longo prazo.
Referência
Peixoto, L. dos S. F., Lima, I. F. M. de, Silva, C. P. da, Pimentel, L. G., Lima, V. B. de S. R., Santana, K. R. de, Júnior, F. B. da P., &; Paz, E. S. L. da. (2020). Ansiedade: o uso da Cannabis sativa como terapêutica alternativa frente aos benzodiazepínicos / Anxiety: the use of Cannabis sativa as an alternative therapy in front of benzodiazepinics. Brazilian Journal of Development, 6(7), 50502–50509. https://doi.org/10.34117/bjdv6n7-631