Um estudo inédito realizado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no campus de Curitibanos, trouxe novas evidências sobre o uso de Cannabis no manejo de animais silvestres em cativeiro.
A pesquisa foi conduzida pela médica-veterinária Aline Goulart como parte de sua dissertação de mestrado, no Projeto Lontra, em Florianópolis, na Lagoa do Peri.
O estudo avaliou o efeito de um extrato rico em canabidiol (CBD) e com baixo teor de ∆9-tetrahidrocanabinol (THC) sobre estereotipias em animais da família Mustelidae, mantidos em recintos artificiais no Projeto Lontra, do Instituto Ekko Brasil.
De acordo com a pesquisadora, o experimento reforça a segurança do tratamento, mesmo em espécies cujo sistema endocanabinoide ainda não foi totalmente mapeado.
Dra. Aline Goulart estudou efeitos do CBD em lontras e outros mustelídeos
“Prova o quanto a Cannabis é segura. Até em animais que não mapeamos os receptores do sistema endocanabinoide, como essas espécies silvestres, conseguimos resultados positivos sem efeitos adversos graves”, afirma a Dra. Aline.

Dra. Aline Goulart estudou efeitos do CBD em lontras e outros mustelídeos
O que são estereotipias e porque afetam os mustelídeos
As estereotipias são comportamentos repetitivos e aparentemente sem objetivo. Em zoológicos e outros recintos artificiais, podem surgir quando o animal está sob estresse crônico ou ansiedade, geralmente por não conseguir expressar seus comportamentos naturais de caça, exploração e interação social.
Os exemplos mais comuns de estereotipia estão:
- Andar de um lado para o outro (pacing)
- Nadar em círculos
- Lamber-se excessivamente
- Fazer vocalizações sem motivo aparente
- Mutilação
No caso dos mustelídeos — grupo que inclui lontras, furões, texugos, doninhas e iraras —, esses comportamentos são mais frequentes devido ao alto nível de atividade e curiosidade dessas espécies.

Fred: a lontra inspiração para a pesquisa
Antes desse estudo, o médico-veterinário Erik Amazonas já havia testado o uso de canabidiol em uma lontra chamada Fred, no mesmo projeto, obtendo bons resultados na redução de estereotipias. Com base nesse caso inicial, a Dra. Aline decidiu ampliar a análise com CBD para outros mustelídeos.
A equipe selecionou cinco animais que apresentavam comportamentos estereotipados evidentes. Primeiramente, eles foram observados sem tratamento. Em seguida, iniciou-se a administração do extrato de Cannabis na proporção CBD:THC de 10:1, seguindo o protocolo veterinário start slow and go slow (começar devagar e aumentar gradualmente).
As observações ocorreram três vezes ao dia (manhã, tarde e noite), registrando comportamentos como nado repetitivo, vocalizações, pacing e automutilação.
Resultados: menos ansiedade e mais qualidade de vida
O uso do CBD reduziu significativamente as estereotipias nos mustelídeos, com variação de acordo com a espécie, o indivíduo e a dose.
Principais resultados:
- Lontra Cacau: antes, não descansava durante o dia, permanecendo em atividade constante. “Com o CBD, conseguimos equilibrar o ciclo circadiano. Depois de um tempo, ao meio-dia encontrávamos ela dormindo, coisa que não acontecia. Também diminuíram as vocalizações e o mergulho excessivo”, detalhou a Dra. Aline.
- Iraras: tanto o macho quanto a fêmea apresentavam pacing. “Conseguimos diminuir em 50% esse comportamento nos dois”, explicou a pesquisadora.
- Furão Condá: macho agressivo que brigava com fêmeas e mordia tratadores. Ficou mais sociável e diminuiu as brigas. No entanto, devido ao limite de 3 mg/kg/dia imposto pela pesquisa, a dose não pode ser aumentada para avaliar um efeito maior.

A lontra cacau dormindo após a dose matinal de CBD
De acordo com os resultados, a redução das estereotipias foi mais visível no período da tarde. Em alguns casos, doses mais altas provocaram sedação excessiva, indicando a necessidade de ajuste fino para cada animal.
Avanços e aplicação em outras espécies
Para a Dra. Aline, os resultados superaram as expectativas, especialmente pela falta de mapeamento detalhado dos receptores do sistema endocanabinoide em mustelídeos, como já existe para cães e gatos.
“Os resultados dão um direcionamento para animais que vivem em recintos artificiais, sob cuidados humanos em zoológicos. Todos esses recintos em que o animal fica recluso, sem seu ambiente natural, podem levar ao desenvolvimento de estereotipias. E isso pode ser estendido a outras espécies”, destacou.
Medicamentos à base de Cannabis para uso veterinário
Atualmente, médicos-veterinários no Brasil podem prescrever canabinoides, mas precisam utilizar produtos formulados para uso humano ou de associações. Embora possam gerar resultados positivos, eles não são desenvolvidos levando em conta as particularidades fisiológicas de cada espécie.
O desenvolvimento de medicamentos à base de Cannabis para uso veterinário traria mais segurança, precisão na dosagem e eficácia nos tratamentos, especialmente em animais em recintos artificiais.
Tratamentos com medicamentos à base de Cannabis para humanos
Existem diferentes tipos de produtos à base de Cannabis para uso humano, como óleos, sprays, comprimidos e tinturas para uso oral, além de pomadas e geis de uso tópico. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite que médicos prescrevam esses medicamentos para tratamentos de saúde legalmente.
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