Na 3ª edição do Congresso Mundial de Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa (WCTCIM), a Cannabis esteve em ótima companhia. Ao lado de plantas como camomila, lavanda e citronela, além de outras espécies amplamente usadas no cuidado humano, o uso de canabinoides ganhou destaque entre os temas do evento, reforçando seu papel dentro das terapias integrativas e da pesquisa científica.
Realizado no Rio de Janeiro, o congresso reuniu profissionais e pesquisadores de diversos países, consolidando-se como um dos maiores encontros globais sobre a medicina tradicional, complementar e integrativa (MTCI). O evento foi co-organizado pelo Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN), a Sociedade Europeia de Medicina Integrativa (ESIM) e a Sociedade Internacional para Pesquisa em Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa (ISCMR).
Entre tradição e ciência: o papel da Cannabis nas práticas integrativas
Um dos eixos temáticos do congresso foi o uso medicinal da Cannabis nas práticas tradicionais, complementares e integrativas. O tema esteve presente em painéis, seminários e apresentações científicas, reunindo especialistas de diversos países para discutir evidências clínicas, regulamentações e desafios éticos.
A médica-veterinária e pesquisadora Telma Florio foi uma das participantes e apresentou oralmente seu trabalho “Potencial Terapêutico da Cannabis Medicinal na Medicina Veterinária”. Segundo ela, o interesse na área está crescendo rapidamente, impulsionado por resultados promissores.
“O interesse do público foi encorajador, confirmando uma mudança de paradigma: a planta, antes marginalizada, consolida-se como um pilar legítimo da medicina integrativa. A Cannabis não apenas tinha seu espaço, mas foi destaque e reconhecida por sua potência entre as diversas práticas integrativas e complementares de saúde (Homeopatia, Fitoterapia, Ayurveda).”

Telma Florio foi uma das escolhidas para apresentar pesquisa oralmente
As apresentações abordaram temas diversos, incluindo o uso terapêutico em animais, tema da apresentação de Telma. Para a pesquisadora, o público teve uma recepção para o trabalho dela.
“A recepção da pesquisa e da apresentação oral foi positiva e impactante. O rigor do método Delphi, que gerou consenso para condições como dor crônica, epilepsia e ansiedade em cães e gatos, ofereceu diretrizes baseadas em evidências que apresentamos ao público. Nossa pesquisa preencheu uma lacuna entre a demanda dos tutores e o conhecimento veterinário, posicionando-se como uma promessa terapêutica validada.”
Debates consistentes e novas perspectivas terapêuticas
Entre as sessões mais concorridas, a mesa “Cannabis: Evidências, Desafios e Potenciais Terapêuticos” atraiu grande público e abriu espaço para reflexões sobre os usos e os desafios da planta em diferentes contextos clínicos.
O naturólogo Derick Rezende, um dos palestrantes, explicou que os canabinoides despertam crescente interesse da comunidade científica por seus benefícios em diversas condições de saúde. Nesse sentido, ele defendeu que o ensino sobre o sistema endocanabinoide deveria fazer parte da formação de novos profissionais de saúde.

Derick Rezende falou para público curioso sobre o potencial terapêutico dos compostos da Cannabis
A médica Karen Sukadolnik ressaltou a importância de integrar os canabinoides ao cuidado centrado no bem-estar, unindo corpo, mente e ambiente. Ela costuma prescrever medicamentos à base de Cannabis como parte de um plano terapêutico amplo e individualizado contemplando os princípios da medicina integrativa.
A naturóloga Michelly Paschuino trouxe outra perspectiva: mesmo diante das restrições legais, é possível estimular o sistema endocanabinoide com outras substâncias naturais, especialmente com a aromaterapia. Segundo ela, óleos essenciais podem ajudar o corpo a restaurar o equilíbrio de forma natural.
O painel “Medical Cannabis and Psychedelics” reuniu especialistas para discutir o potencial terapêutico e os desafios do uso de Cannabis e psicodélicos em abordagens integrativas. Dentro desse painel, foram apresentadas pesquisas que ampliam a compreensão científica:
- “Evidence Map of Effectiveness of Medical Cannabis”, que reuniu evidências científicas sobre a eficácia do uso medicinal da Cannabis
- “The Intersection Between Cannabis and Psychedelics: Therapeutic Potential and Personalized Approaches”, que abordou estratégias personalizadas de tratamento e os pontos em comum de ambas as áreas.
Além das sessões presenciais, o congresso teve apresentações de pôsteres científicos sobre o uso terapêutico da Cannabis. Entre os destaques:
- “Use of Cannabis sativa in the Treatment of Insomnia: An Integrative Review”, que discute o uso dos derivados da planta para distúrbios do sono
- “Scientific Production about Medicinal Cannabis in Latin America: A Ten-Year Bibliometric Analysis”, que analisa uma década de pesquisa sobre Cannabis na América Latina
- “Global Research Trends and Clinical Evidence of Medical Cannabis: An Overview”, que apresenta um panorama global das tendências e evidências clínicas na área
- “Medical Cannabis and the Cardiovascular System: A Narrative Review”, que revisa os efeitos dos canabinoides no sistema cardiovascular
Integração entre plantas, práticas e pessoas
Mais do que um tema isolado, a Cannabis foi abordada no WCTCIM como parte de uma visão integrada de saúde, em que plantas medicinais, terapias complementares e práticas mente-corpo se unem para promover o bem-estar.
Profissionais da naturopatia e da medicina integrativa destacaram como a planta dialoga com abordagens como yoga, meditação, mindfulness, aromaterapia e fitoterapia, compondo um repertório terapêutico que une tradição, ciência e cuidado.
O encontro foi marcado pela diversidade de saberes e pela busca de soluções para os desafios da saúde nos dias atuais, com os compostos da Cannabis ocupando um espaço de respeito e reconhecimento.

Congresso Mundial de Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa também teve práticas de mente-corpo na programação
Dez pilares para uma saúde integrativa, ética e sustentável
O 3º Congresso Mundial de Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa se estruturou em dez princípios fundamentais, que expressam o compromisso com a ciência, a ética e a diversidade cultural:
- Inclusão – Garantir representação de todas as regiões, disciplinas e setores da saúde.
- Diversidade – Valorizar a biodiversidade e a pluralidade de saberes e práticas culturais.
- Base científica – Unir conhecimentos tradicionais e de povos originários com pesquisa científica rigorosa.
- Patrimônio – Promover equidade e justiça social em todas as atividades.
- Colaboração – Incentivar redes de cooperação e compartilhamento de conhecimento.
- Sustentabilidade – Integrar práticas ambientalmente responsáveis na organização e no conteúdo do evento.
- Acessibilidade – Tornar o congresso acessível física, linguística e financeiramente, especialmente a países de baixa e média renda.
- Inovação – Estimular soluções criativas e sustentáveis inspiradas em práticas tradicionais, com consentimento livre e informado.
- Transparência – Garantir clareza nas decisões e processos.
- Impacto no mundo real – Traduzir as discussões do congresso em ações concretas de saúde pública.
A edição carioca do Congresso Mundial de Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa também marcou o lançamento da nova Estratégia de Medicina Tradicional 2025-2034 da OMS, e antecede o Dia Mundial da Medicina Tradicional (22 de outubro), criado pela organização em 1991.
Brasil como referência global de Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa
O Brasil é reconhecido internacionalmente por suas políticas públicas voltadas à Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa. Desde 2006, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece as Práticas Integrativas e Complementares de Saúde (PICS) como forma de ampliar o cuidado e promover o bem-estar da população.
Atualmente, o SUS disponibiliza cerca de 29 práticas reconhecidas, como acupuntura, meditação, auriculoterapia, fitoterapia e ioga, que são aplicadas em hospitais e unidades básicas de saúde. Essas práticas complementam, e não substituem, a medicina convencional, ajudando na prevenção de doenças e melhoria da qualidade de vida.
Nos últimos anos, diversos estados e municípios brasileiros aprovaram leis que regulamentam a dispensação de medicamentos à base de Cannabis pelo SUS, reforçando o alinhamento do país às diretrizes da OMS e aos princípios que norteiam o 3º Congresso Mundial de MTCI.
Importante: qualquer tratamento com medicamentos à base de Cannabis deve ser realizado sob orientação médica. O acompanhamento profissional garante a segurança, o ajuste de dosagem e o monitoramento de possíveis interações com outros medicamentos.
Para um uso responsável e supervisionado de canabinoides, marque uma consulta com especialistas experientes nesse tipo de prescrição para transformar todo o potencial terapêutico da planta em benefícios reais para o paciente.
