Quando falamos em Cannabis, as flores da planta costumam ser o centro das atenções — nelas se concentram os canabinoides como o THC e o CBD, já bastante estudados por seus efeitos terapêuticos. Mas um novo estudo sugere que as folhas da planta também merecem destaque: elas contêm compostos chamados estilbenos, com alto potencial medicinal.
Ainda pouco explorados na Cannabis, esses compostos já são conhecidos por suas propriedades anti-inflamatórios, antioxidantes e até anticâncer em outras espécies vegetais. Agora, passam a chamar atenção também na Cannabis — planta usada com fins medicinais há gerações.
O que são estilbenos
Estilbenos são compostos naturais encontrados em diversas plantas. O mais famoso deles é o resveratrol, conhecido por estar presente no vinho tinto e por seus efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios.
No artigo Therapeutic Potential and Predictive Pharmaceutical Modeling of Stilbenes in Cannabis sativa, publicado na revista Pharmaceuticals, os cientistas identificaram 14 tipos de estilbenos nas folhas da planta.
Todos pertencem a uma subclasse chamada dihidrostilbenoides, e metade deles passou por uma modificação química chamada prenilação — capaz de aumentar a atividade biológica do composto.
Quais são os estilbenos encontrados nas folhas de Cannabis
Alguns dos principais estilbenos observados no estudo incluem:
- Canniprene
- Cannabistilbeno I, IIa e IIb
- Gigantol
- Dihidroresveratrol
- Combretastatina B-2
- Outros compostos com nomes técnicos como HM1, HM2 e HM3
Análise computadorizada de efeitos terapêuticos
Como muitos desses compostos ainda não passaram por testes em humanos, os cientistas usaram uma técnica chamada modelagem preditiva (ou testes in silico) — que significa “dentro do computador”.
Usando softwares avançados, os pesquisadores simularam como os estilbenos das folhas da Cannabis poderiam agir no corpo humano. Eles analisaram como eles seriam absorvidos e metabolizados, se teriam boa biodisponibilidade e quais enzimas e proteínas poderiam bloquear ou ativar.
Essa técnica ajuda a prever o potencial farmacológico dos compostos, economizando tempo e recursos antes de testes em animais ou humanos.
O que os estilbenos podem tratar
De acordo com o estudo, os estilbenos da Cannabis apresentam diversas propriedades terapêuticas promissoras:
- Anti-inflamatória: alguns compostos inibem enzimas ligadas à inflamação, com potencial para tratar asma, artrite e inflamações crônicas.
- Anticâncer: certos estilbenos mostraram atividade contra células de câncer de mama, pulmão, fígado e intestino.
- Antiviral: o canniprene demonstrou capacidade de impedir a replicação do vírus da Covid-19.
- Antioxidante: um dos estilbenos teve bom desempenho na prevenção de danos oxidativos, podendo proteger contra doenças neurodegenerativas e envelhecimento precoce.
- Cardioprotetora: três compostos (HM1, HM2 e HM3) estimularam a produção de proteínas que ajudam a transformar o colesterol “ruim” em colesterol “bom”, auxiliando na prevenção de doenças cardiovasculares.
O que vem a seguir
A identificação dos estilbenos nas folhas de Cannabis abre novos caminhos para a pesquisa. Os autores do estudo defendem que esses compostos sejam investigados mais a fundo, tanto em laboratório quanto em testes clínicos, inclusive considerando possíveis interações com canabinoides, terpenos e flavonoides da Cannabis.
No entanto, a baixa concentração e a falta de tecnologias de extração limitam a pesquisa e representam desafios para que os estudos avancem. Mesmo assim, o estudo indica que a Cannabis ainda tem muito mais a oferecer à medicina além daquilo que já conhecemos.
Como iniciar um tratamento com medicamentos à base de Cannabis
O uso medicinal da Cannabis é amplamente reconhecido pela eficácia e segurança dos canabinoides. Ao interagir com o sistema endocanabinoide, esses compostos provocam efeitos terapêuticos que aliviam sintomas de diversas condições de saúde e dão qualidade de vida para milhares de pacientes.
Se você quer experimentar os benefícios do tratamento com canabinoides, siga as recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e busque orientação médica.
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