Durante anos, uma jovem australiana de 23 anos enfrentou uma batalha diária contra a dor pélvica intensa causada pela endometriose. A condição comprometeu e reduziu drasticamente sua qualidade de vida.
Como tantas outras mulheres, ela experimentou diversos tratamentos — medicamentos, cirurgias, enfrentou efeitos colaterais — mas a dor persistia. Tudo começou a mudar quando passou a usar medicamentos à base de Cannabis, trazendo alívio e liberdade.
Essa é uma história real de uma paciente que participou do Project Twenty21 Australia, um estudo que avaliou os efeitos de um medicamento de espectro completo rico em canabidiol (CBD) no tratamento da dor crônica associada à endometriose. O caso foi publicado no Journal of Medical Clinical Case Reports e representa um passo importante na busca por alternativas mais eficazes e seguras para tratar essa condição que afeta milhões de mulheres no mundo.
Como a Cannabis age no corpo de quem tem endometriose
O estudo reforçou a ideia de que os compostos da Cannabis, especialmente o CBD, atuam de diferentes formas no organismo, ajudando a aliviar os sintomas da endometriose — especialmente a dor.
De acordo com os pesquisadores, a interação com o sistema endocanabinoide — presente em diversas partes do corpo, inclusive no útero — tem papel fundamental. Esse sistema participa do controle da dor, da inflamação, do sono e do humor, todas áreas impactadas pela endometriose.
O CBD, embora não se ligue diretamente aos receptores do sistema endocanabinoide, modula sua ação por caminhos indiretos e também interage com outros sistemas, como o serotoninérgico e o glicinérgico, ambos relacionados à percepção da dor. Além disso, possui propriedades anti-inflamatórias, ansiolíticas e antioxidantes.
O ∆9-tetrahidrocanabinol (THC), mesmo em doses muito baixas, como nos medicamentos de espectro completo, também pode contribuir com efeito analgésico e anti-inflamatório, reforçando o alívio das dores.
Oito anos de dor crônica
Desde os 15 anos, a jovem convivia com dores incapacitantes durante o ciclo menstrual, especialmente na menstruação e na ovulação. Durante cerca de 10 dias por mês, a intensidade dos sintomas a impedia de sair da cama.
Com o tempo, surgiram também insônia, ansiedade, depressão e enxaquecas.
Ela foi submetida a uma laparoscopia — procedimento cirúrgico indicado para endometriose —, mas os resultados não foram os esperados: a dor persistia. Medicamentos como analgésicos, antidepressivos e até benzodiazepínicos fizeram parte da rotina, mas com pouco ou nenhum alívio.
A médica responsável por seu tratamento, Dra. Kylie O’Brien, relatou a aflição da paciente.
“Aos 23 anos, ela já sofria há 8 anos de dor crônica devido à endometriose. Sentia dores que exigiam repouso na cama e interrompiam suas atividades. Ela me procurou desesperada para reduzir a dor e recuperar a capacidade de viver mais plenamente.”
Nova abordagem: a introdução do CBD
Em 2022, a jovem procurou a Dra. O’Brien na Releaf Clinic, uma clínica especializada em saúde integrativa. Após avaliação, foi aceita no Project Twnety21 e passou a usar um óleo de espectro completo rico em CBD (100 mg/ml) e com baixa concentração de THC (<1 mg/ml).
A fórmula também incluía terpenos — compostos aromáticos naturais presentes na Cannabis, reconhecidos por suas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas.
A dosagem foi ajustada com cautela, iniciando com pequenas quantidades e aumentando gradualmente até atingir 40 mg de CBD duas vezes ao dia.
Três meses depois: menos dor, mais qualidade de vida
Após três meses de uso contínuo do medicamento à base de Cannabis, a jovem relatou uma redução drástica da dor associada à endometriose. Antes presente por até 10 dias no mês, agora surgia de forma leve em apenas 1 ou 2 dias, durante o período menstrual.
Além disso, ela relatou melhoras no sono e na ansiedade. Não houve efeitos colaterais, nem sinais de dependência — aspecto essencial em tratamentos de uso prolongado.
O artigo publicado na revista científica incluiu o relato da jovem após o fim do estudo:
“A dor crônica que eu vinha sentindo nos últimos anos chegou a um ponto em que minha qualidade de vida foi severamente impactada. Desde que comecei a usar medicamentos à base de Cannabis diariamente, observei uma redução significativa na minha dor, bem como uma melhora no meu humor e na minha capacidade de viver plenamente.”
Cannabis e endometriose: um futuro com mais possibilidades no alívio da dor
Embora esse seja o relato de apenas um caso, ele se soma a um corpo crescente de evidências científicas sobre o uso terapêutico da Cannabis no tratamento da dor associada à endometriose.
O uso responsável, com orientação médica e produtos de qualidade, pode representar uma alternativa segura e eficaz para pacientes que não respondem aos tratamentos convencionais.
Estudos anteriores já indicavam que, além dos efeitos anti-inflamatórios e analgésicos, o CBD também reduz a angiogênese — formação de novos vasos sanguíneos — nas áreas afetadas, contribuindo para o controle da doença.
Como iniciar um tratamento para endometriose com medicamentos à base de Cannabis
Se você quer experimentar os benefícios dos canabinoides para o tratamento da endometriose, é fundamental ter o acompanhamento de um médico especializado. Essa é uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para adquirir os produtos com segurança.
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