Em 2023, o deputado Eduardo Suplicy tornou público o seu diagnóstico de Parkinson e seu tratamento com medicamentos à base de Cannabis. Desde então, o político veterano se tornou um defensor do uso terapêutico da planta promovendo debates na Assembleia Legislativa de São Paulo, atuando como vice-presidente da Frente Parlamentar da Cannabis Medicinal e do Cânhamo, e compartilhando abertamente sua experiência pessoal como paciente.
Agora, Suplicy também contribui com a ciência: participou de um estudo publicado na Revista Brasileira de Farmacognosia, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), sob coordenação de Francisney Nascimento. O trabalho trouxe uma análise detalhada da evolução clínica do deputado com o uso de medicamentos à base de Cannabis ricos em THC.
“Viva a ciência brasileira!”, comemoraram Suplicy e Francisney em vídeo publicado no Instagram.
Assista o vídeo completo aqui.

Antes da Cannabis: sintomas que limitavam a vida pública
Antes de iniciar o tratamento com medicamento à base de Cannabis, Suplicy já utilizava medicamentos convencionais para o controle do Parkinson, porém com resultados limitados.
De acordo com o estudo, o deputado tomava levodopa (300 mg/dia) associada a benserazida (75 mg/dia), uma combinação utilizada para repor a dopamina no cérebro e aliviar os sintomas motores, como rigidez e lentidão dos movimentos. Além disso, fazia uso de valproato de sódio (300 mg/dia) e vortioxetina (15 mg/dia) para aliviar sintomas relacionados à saúde mental.
Apesar desse repertório de medicamentos, os tremores nas mãos, a bradicinesia (lentidão ao se mover) e a dificuldade para caminhar persistiam, afetando inclusive sua atuação pública. Suplicy relatava constrangimento por causa dos tremores, especialmente durante discursos e aparições.
A melhora significativa só viria após a introdução de um medicamento à base de Cannabis rico em ∆9-tetrahidrocanabinol (THC).
O THC no tratamento
Estudos anteriores já apontaram o potencial do canabidiol (CBD) para aliviar sintomas como ansiedade e distúrbios do sono no Parkinson. No entanto, o professor Francisney explicou que o canabinoide não demonstrou eficácia nos sintomas motores.
“Com CBD há ganhos na parte não-motora como depressão, ansiedade, irritabilidade, mas não na parte motora. E nesse paciente a melhora foi muito consistente na parte motora, na marcha e na redução de tremores”, destacou o professor.

Francisney Nascimento coordenou estudo de caso com Eduardo Suplicy e seu tratamento com Cannabis para o Parkinson | Foto: Marcos Labanca
Entendendo que o THC seria importante para o tratamento de Eduardo Suplicy, Francisney e a equipe adotaram estratégias para potencializar os benefícios e atenuar os possíveis efeitos adversos do canabinoide.
“De forma geral, estudos com Cannabis limitam muito o THC pela questão legal e da dificuldade de conseguir, mas também por estar relacionado aos efeitos psicoativos. Então, muitas vezes você se limita a 10, 12, 15 mg, e a gente chegou até 20 mg de THC com o Suplicy tomando três vezes por dia”, pontuou o pesquisador.
Em busca da dose ideal
O acompanhamento clínico durou nove meses, entre novembro de 2023 e julho de 2024. Durante esse período, Suplicy utilizou dois tipos de medicamentos à base de Cannabis, com diferentes proporções de THC e CBD.
A dose ideal encontrada foi de 18,25 mg de THC por dia. Quando essa dosagem foi ultrapassada (22,83 mg), os benefícios diminuíram, o que indicou a necessidade de ajuste fino.
Entre os principais avanços relatados no estudo, destacam-se:
- Redução de 54% nos sintomas motores, segundo a escala MDS-UPDRS
- Desaparecimento dos tremores intensos nas mãos, permitindo realizar tarefas como escrever e amarrar os cadarços
- Melhora na qualidade do sono e na disposição diária
- Melhora na qualidade de vida, segundo o questionário PDQ-39
- Aumento da pontuação no Mini Exame do Estado Mental (MEEM), indicando melhora na saúde mental
Suplicy relatou sentir-se mais confiante e menos constrangido com os tremores. Ele também notou que os sintomas reapareciam quando esquecia de tomar a medicação, reforçando a relação direta com os efeitos do óleo.

Em sessão na Alesp, Suplicy compartilhou que ficou livre dos tremores nas mãos
Como o THC age no cérebro de quem tem Parkinson
Os benefícios observados no estudo estão ligados à ação do THC no sistema endocanabinoide, uma rede de receptores que ajuda a regular funções como movimento, sono, humor e dor.
Enquanto o CBD atua como um modulador indireto, o THC ativa diretamente os receptores CB1, presentes em áreas do cérebro responsáveis pelo controle motor, como os gânglios da base.
De acordo com os autores, esse é um dos primeiros relatos clínicos a mostrar benefícios motores expressivos com o uso de THC em pacientes com Parkinson.
“Foi perfeitamente seguro. Em nenhum momento demonstrou tonturas, efeito psicoativo ou qualquer coisa relacionado à dose. Então, abre caminho para a gente utilizar doses altas de até 20 mg de THC pela via oral de forma segura, inclusive em idosos”, afirmou Francisney.
A experiência com Suplicy fortalece o reconhecimento da Cannabis como uma ferramenta terapêutica em doenças neurodegenerativas, como o Parkinson. Nesse sentido, os pesquisadores ressaltaram a importância de facilitar o acesso a produtos ricos em THC no Brasil.
Como incluir medicamentos à base de Cannabis no tratamento do Parkinson
Se você ou alguém próximo tem Parkinson e quer experimentar os benefícios dos canabinoides, converse com um médico experiente nesse tipo de abordagem. É fundamental ter a orientação profissional para não interferir nos outros tratamentos em andamento. Além disso, a prescrição médica é uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para adquirir os produtos de forma segura e legal.
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