Conviver com uma dor constante, que não melhora com analgésicos comuns, é a realidade de muitas pessoas com dor neuropática crônica. Além disso, muitas enfrentam os efeitos colaterais da depressão. Esse tipo de dor é causado por lesões nos nervos, é difícil de tratar e costuma vir acompanhada de transtornos de humor.
Uma pesquisa da USP de Ribeirão Preto destacou uma possibilidade para esses pacientes: o canabidiol (CBD), um dos compostos da planta Cannabis. O estudo, publicado na revista científica Neuroscience and Behavioral Physiology, mostrou que o CBD teve resultados promissores, comparáveis ao da fluoxetina — um dos antidepressivos mais prescritos no mundo.
Enquanto a fluoxetina teve efeitos apenas sobre os sintomas depressivos, o CBD apresentou um benefício adicional — aliviou tanto a dor quanto os sinais de depressão.
Fluoxetina: o que é e como atua no cérebro
A fluoxetina é um medicamento antidepressivo da classe dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS). É amplamente utilizado no tratamento de transtornos como depressão, ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Esse medicamento age aumentando a quantidade de serotonina no cérebro — uma substância associada à sensação de bem-estar.
Apesar de eficaz no combate à depressão, a fluoxetina não atua diretamente sobre a dor crônica. Por isso, seus efeitos podem ser limitados em pacientes com condições como a dor neuropática, especialmente quando há sintomas emocionais associados.
CBD versus fluoxetina: qual é mais eficaz contra dor e depressão
O estudo Comparison between Cannabidiol and Fluoxetine effects on chronic neuropathic pain and depression comorbid in rats teve como objetivo verificar qual dos dois compostos teria uma ação mais eficaz tanto no alívio da dor quanto nos sintomas de depressão.
Para isso, os pesquisadores induziram dor crônica em ratos e administraram diferentes doses de CBD (3, 10 e 30 mg/kg) ou uma dose de fluoxetina (20 mg/kg). Depois disso, os animais foram submetidos a testes para avaliar sintomas como tristeza profunda, perda de prazer e sensibilidade à dor.
Os testes utilizados foram:
- Teste do nado forçado – avalia o desânimo e o desespero comportamental
- Preferência por sacarose – indica a capacidade de sentir prazer
- Teste de von Frey – mede a resposta à dor causada por estímulos leves
Os resultados mostraram que a fluoxetina teve efeito positivo nos sintomas depressivos, como o desânimo e a anedonia (perda de prazer), mas não foi eficaz para reduzir a dor neuropática.
Já o CBD apresentou ação dupla: reduziu tanto os sinais comportamentais ligados à depressão quanto a alodinia mecânica — um tipo de dor causada por estímulos leves. A dose de 30 mg/kg foi a mais eficaz, apresentando efeitos analgésicos mais consistentes entre todos os grupos.
CBD pode complementar os tratamentos convencionais para dor

A dor neuropática é difícil de controlar e costuma estar associada a comorbidades psiquiátricas, como a depressão e a ansiedade. Em entrevista ao Jornal da USP, a pesquisadora Priscila Medeiros de Freitas, uma das responsáveis pelo estudo, explicou que muitos pacientes não respondem bem aos tratamentos atuais, seja pela ineficácia em controlar todos os sintomas ao mesmo tempo, seja pelos efeitos colaterais indesejados.
Ela ressaltou que o CBD não substitui os tratamentos convencionais, mas pode atuar como um complemento eficaz.
“O CBD pode representar mais uma possibilidade dentro do arsenal farmacológico disponível. Mais uma possibilidade terapêutica promissora e multifuncional com a vantagem de combinar efeitos antidepressivos e analgésicos em um único composto”, afirma.
Como o CBD age no alívio da dor e da depressão ao mesmo tempo
Segundo os pesquisadores, a interação do CBD com o sistema endocanabinoide modula a atividade de neurotransmissores, promovendo o equilíbrio em áreas do cérebro relacionadas tanto à percepção da dor quanto ao controle emocional.
Além disso, o canabidiol tem propriedades anti-inflamatórias que podem contribuir para reduzir a sensibilização do sistema nervoso à dor — algo comum em casos de dor neuropática. Isso explicaria por que, nas doses mais altas testadas no estudo, o CBD foi eficaz tanto para reduzir a dor quanto para melhorar o comportamento depressivo no modelo animal.
Fluoxetina segue importante no combate à depressão
Embora o estudo tenha apontado limitações da fluoxetina no tratamento da dor crônica, o medicamento continua sendo uma das opções mais prescritas no mundo para depressão. É especialmente útil em casos leves a moderados, quando não há outras condições associadas, como dores intensas ou transtornos neurológicos.
Estudos clínicos já demonstraram a eficácia da fluoxetina na melhora do humor, da motivação e da qualidade de vida dos pacientes. No entanto, quando a depressão está associada a sintomas físicos, pode ser necessário complementar o tratamento com outras abordagens — e é nesse cenário que o CBD pode ser um aliado importante.
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