A Faculdade de Medicina de Jundiaí (SP) deu início a um ensaio clínico inédito no Brasil que investiga o uso combinado de canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC) em pacientes com Alzheimer em estágio moderado. O objetivo é avaliar se a formulação equilibrada desses dois canabinoides pode reduzir sintomas de agitação e, consequentemente, proporcionar mais estabilidade no cotidiano de pacientes e familiares.
O estudo é conduzido pela mestranda Tereza Raquel Xavier Viana, sob orientação do doutor José Eduardo Martinelli e coorientação do professor Ivan Aprahamian. A pesquisa é supervisionada por médicos e especialistas da instituição, seguindo todas as diretrizes do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/CONEP).
Um protocolo pensado para o Brasil
Em entrevista para o Portal Cannabis & Saúde, Tereza Raquel explica que o protocolo que combina THC e CBD foi desenhado a partir de evidências internacionais que já apontam segurança e benefícios potenciais dessa associação.
“A ideia foi adaptar para o contexto brasileiro, criando um desenho clínico estruturado e com acompanhamento próximo, para avaliar de forma pioneira os efeitos em pacientes com Alzheimer moderado”, explica.
A escolha desse estágio da doença não foi por acaso. A pesquisadora destaca que o Alzheimer moderado é um ponto de equilíbrio: os sintomas já são significativos, mas o paciente ainda preserva alguma funcionalidade, o que permite observar de forma mais clara os impactos de uma intervenção terapêutica.
Critérios de inclusão e exclusão
O recrutamento é destinado a pessoas acima de 60 anos, com diagnóstico confirmado de Alzheimer moderado, validado inclusive por exames de imagem. É necessário também que o participante esteja sob uso controlado de determinadas medicações e conte com o apoio de um cuidador ou responsável legal.
Por outro lado, ficam de fora pacientes com doenças graves — como hepáticas, cardiovasculares ou respiratórias —, além de pessoas que tenham feito uso de Cannabis nos últimos três meses.
“Esses critérios reduzem o número de voluntários aptos, mas asseguram a segurança e a confiabilidade dos resultados da pesquisa”, explica.
Acompanhamento próximo
Após a inclusão no estudo, cada paciente passa por três consultas mensais nos primeiros três meses. Nesse período, a equipe acompanha tanto os sintomas cognitivos quanto os físicos, ajustando a dosagem quando necessário. Há ainda um canal direto de comunicação entre familiares e equipe de pesquisa.
O papel central do cuidador
Um dos diferenciais da pesquisa é a participação ativa dos cuidadores. “O cuidador é uma peça central no estudo. Ele é quem registra diariamente mudanças de comportamento, como qualidade do sono, apetite e alterações de humor. Sem esse olhar atento, seria impossível acompanhar de fato o impacto do tratamento”, ressalta Tereza.
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Caminhos para o futuro
Para a pesquisadora, os resultados poderão abrir portas para a criação de protocolos cada vez mais bem definidos e baseados em evidências, que no futuro possam ser incorporados ao sistema público de saúde. “A ideia é que esses cuidados se tornem acessíveis em larga escala, inclusive dentro do SUS”, projeta.
Impacto também nos cuidadores
Embora o foco esteja nos pacientes, o estudo também considera os efeitos indiretos nos cuidadores, que costumam enfrentar sobrecarga emocional e física. “Qualquer melhora na qualidade de vida do paciente reflete diretamente no cuidador. Só isso já é um impacto muito significativo, porque sabemos que o familiar sofre tanto quanto”, conclui Tereza.
Interessados em participar do recrutamento devem preencher o formulário disponível neste link.