As sementes de cânhamo são consideradas superalimentos e conquistaram espaço nas prateleiras de produtos naturais pelo seu alto teor de proteínas e gorduras boas, especialmente os ácidos graxos essenciais ômega-3 e ômega-6. Agora, pesquisadores avaliam se outras partes da planta Cannabis também podem ter valor nutricional relevante para a alimentação humana.
Um estudo conduzido por pesquisadores australianos, publicado no Journal of Cannabis Research, analisou as folhas jovens, raízes e os microverdes da planta. Esses microverdes são pequenas mudas no estágio logo após a germinação, quando ainda exibem o primeiro par de folhas. Nessa fase inicial, os níveis de nutrientes, vitaminas e compostos bioativos são mais altos do que em folhas maduras.

Microverdes da Cannabis possuem alta concentração de nutrientes
Folhas raízes e microverdes de Cannabis sob a lupa
Para as análises, os cientistas utilizaram uma variedade de Cannabis com baixos níveis de tetrahidrocanabinol (THC), conhecida como cânhamo. Suas fibras são amplamente empregadas na produção de papel, tecidos, plásticos biodegradáveis e materiais de construção. Atualmente, há um interesse crescente em aproveitar os subprodutos desse cultivo, tornando o cânhamo uma cultura ainda mais versátil.
Estudos anteriores já indicavam que resíduos do cânhamo podem ser úteis na alimentação animal, funcionando como uma alternativa à soja. Agora, os pesquisadores australianos avaliaram se o perfil nutricional dessas partes também poderia beneficiar humanos.
Nas folhas, raízes e microverdes, foram analisados:
- Nutrientes
- Vitaminas
- Minerais
- Aminoácidos
- Canabinoides
- Terpenos
- Compostos fenólicos
- Presença de metais pesados
Nutrientes em destaque nas folhas e microverdes: proteínas, minerais e vitaminas
Os resultados mostraram que as folhas e microverdes concentram diversos nutrientes essenciais. Ambas apresentam altos níveis de proteína bruta, comparáveis ou superiores aos de vegetais como espinafre e alface, além de conter aminoácidos essenciais, como lisina, leucina e valina. Os baixos teores de gordura e carboidratos tornam essas partes opções saudáveis.
Os microverdes se destacaram pela alta concentração de vitamina E, reconhecida por sua ação antioxidante, enquanto as folhas jovens concentraram cálcio, magnésio, fósforo e potássio. Juntas, essas partes poderiam contribuir significativamente para a ingestão diária recomendada de minerais e vitaminas do complexo B.
O consumo de 85 g de folhas, por exemplo, poderia atender entre 16% e 42% das necessidades diárias de cálcio, magnésio e potássio, além de mais de 3000% da dose recomendada de vitamina B1.
Além disso, apresentaram um equilíbrio entre os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6, considerado benéfico para a saúde cardiovascular e cerebral. Esse perfil faz das folhas e microverdes de cânhamo candidatos naturais a alimentos funcionais.
Raízes exigem cautela
As raízes, embora menos atrativas como alimento direto, chamaram atenção pela presença de vitaminas do complexo B e carboidratos. O estudo, no entanto, destacou o acúmulo de arsênio nas amostras, provavelmente vindas do substrato de cultivo.
Portanto, o uso seguro de raízes requer cuidados no controle de contaminantes. Pesquisas anteriores já haviam identificado que extratos das raízes de cânhamo apresentam propriedades anti-inflamatórias, sugerindo potencial uso em medicamentos e cosméticos.
Canabinoides e terpenos: sabor e segurança no prato
Uma das preocupações dos pesquisadores era verificar se folhas e microverdes conteriam canabinoides, como CBD e THC. As análises detectaram traços mínimos, muito abaixo dos níveis capazes de causar efeitos adversos.
Por outro lado, a presença de terpenos confere sabor e aroma agradáveis, o que abre espaço para o uso culinário em saladas, chás e temperos.

Do campo ao cardápio: uma planta com múltiplos usos
De acordo com os autores, o cânhamo é uma planta multifuncional, com potencial para integrar o cardápio de residências e restaurantes. Seu alto valor nutricional e baixo teor de gordura tornam folhas e microverdes promissores como alimentos funcionais, saudáveis e sustentáveis. As raízes podem ser aproveitadas desde que cultivadas com controle rigoroso de contaminantes.
Mais pesquisas são necessárias para validar a segurança e atender às normas regulatórias para alimentos, mas o trabalho abre caminho para o aproveitamento integral da planta, ampliando o uso da Cannabis para além do medicinal e do industrial.
Os usos de Cannabis permitidos no Brasil
Por enquanto, o uso da Cannabis para fins alimentícios não tem regulamentação no Brasil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite apenas o uso de medicamentos à base de Cannabis, mediante prescrição e acompanhamento médico.
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