O uso medicinal da Cannabis tem crescido nos últimos anos, mas ainda gera muitas dúvidas sobre os diferentes tipos de produtos disponíveis. Entre eles estão o CBD isolado, o broad spectrum e o full spectrum, que se diferenciam principalmente pela composição dos canabinoides e pelos efeitos que podem gerar nos pacientes. A escolha entre um tipo ou outro é uma das questões mais comuns entre aqueles que buscam tratamento com Cannabis medicinal.
Para esclarecer essas diferenças, o Dr. João Carlos Normanha Ribeiro explica: “O broad spectrum é quando você retira todos os compostos psicoativos, como o THC, mantendo os demais canabinoides não psicoativos. O full spectrum contém todos os compostos da planta em proporções específicas, e os isolados são moléculas separadas, como CBD, THC ou CBG.”
Isolados: moléculas padronizadas para pesquisa
Segundo o médico, o CBD isolado surgiu da necessidade de adaptar a Cannabis aos moldes da ciência tradicional. “O CBD isolado vem de uma tentativa de transformar um fitoterápico em medicamento. Para ensaios laboratoriais e clínicos, é necessário utilizar compostos padronizados, de grau farmacêutico, inclusive sintéticos”, explica.
Isso significa que, para pesquisas e ensaios clínicos, é preciso usar uma única molécula isolada, o que facilita a padronização de doses e a avaliação dos efeitos.
Na prática clínica, porém, os isolados acabam exigindo doses muito altas para atingir efeito, chegando a 400 mg ou 500 mg por dia. “Isso pode gerar sobrecarga hepática ou efeitos adversos indesejado”, afirma Normanha.
Broad spectrum e full spectrum: mais compostos, menor dose
O médico destaca que, em sua prática clínica, o full spectrum tende a ser mais eficaz para a maioria dos pacientes. “Com esse tipo de produto, conseguimos alcançar os efeitos desejados com doses menores, graças à ação combinada de diferentes canabinoides e terpenos. Esse fenômeno é conhecido como efeito comitiva”, explica.
Já o broad spectrum aparece como alternativa para casos em que o paciente não tolera o THC. “Ainda assim, prefiro usar broad spectrum antes de partir para o isolado. Ele mantém a maior parte dos canabinoides e permite doses mais baixas, o que aumenta a segurança e reduz o risco de sobrecarga hepática”, comenta o médico.
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Migração de pacientes: do isolado para o full spectrum
Muitos pacientes chegam ao consultório já em uso de isolados, mas acabam migrando para o full spectrum. Segundo Normanha, essa transição é simples. “A Cannabis não tem efeito rebote, então não há necessidade de desmame. Basta iniciar o novo produto em dose baixa e ir ajustando conforme a resposta clínica”, explica.
Custo e tecnologia
Outra dúvida comum é em relação ao preço. Muitas pessoas acreditam que os produtos full spectrum são sempre mais caros, mas não é o que se observa na prática. “O que encarece um produto não é a quantidade de compostos, mas a tecnologia envolvida no processo de extração e purificação. Para se obter um isolado de alta pureza, são necessárias técnicas sofisticadas, como extração por CO₂ supercrítico ou cromatografia. Isso faz com que, em geral, os isolados custem mais que os full spectrum”, esclarece o médico.
Perfis de prescrição
Apesar da experiência clínica indicar mais vantagens no uso do full spectrum, alguns médicos ainda preferem prescrever isolados. “Isso acontece porque muitos não têm familiaridade com fitoterápicos ou não se sentem confortáveis em lidar com combinações de compostos. O isolado, por ser uma molécula pura, se encaixa melhor no modelo biomédico tradicional”, observa Normanha.
O futuro da medicina canabinoide
Para o médico, a tendência é que a medicina canabinoide caminhe para a personalização. “O que podemos chamar de ‘full spectrum criados’ seria como uma farmácia de manipulação. Partimos de um veículo neutro e adicionamos doses específicas de CBD, THC, CBG e terpenos. Assim conseguimos padronização, segurança e um tratamento sob medida, especialmente importante em pacientes idosos, polimedicados ou oncológicos”, projeta.
Normanha também chama atenção para o contraste entre a prática clínica e os estudos disponíveis. Enquanto alguns trabalhos científicos apontam baixo nível de evidência para a Cannabis no tratamento da dor crônica, ele observa que o dia a dia no consultório mostra outra realidade. “Em dores nociplásticas, como fibromialgia, síndrome da ardência bucal ou dor pélvica sem explicação, o que temos visto com combinações de canabinoides e terpenos é uma resposta muitas vezes superior ao isolado”, afirma.
Segundo o médico, o desafio está nas barreiras regulatórias e no modelo de pesquisa atual, que privilegia moléculas isoladas de grau farmacêutico. “O que vemos no consultório muitas vezes não é reproduzido em ensaios clínicos, por causa do proibicionismo e do estigma”, conclui.
Importante!
Se você tem interesse nos benefícios dos medicamentos à base de Cannabis, procure um médico. É essencial contar com a orientação de um profissional de saúde para utilizar os produtos de acordo com as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
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