A tradicional revista científica Progress in Brain Research, uma das publicações internacionais mais reconhecidas na área de neurociência, lançou uma edição dedicada a pesquisas sobre canabinoides e psicodélicos conduzidas por cientistas brasileiros.
O convite para que os pesquisadores Sérgio Mota-Rolim e Renato Filev atuassem como curadores do Volume 296, publicado em agosto deste ano, reflete o reconhecimento internacional do protagonismo do Brasil nesse campo de estudo.
Brasil em destaque: protagonismo nas neurociências
Editada pela Elsevier desde 1963, a Progress in Brain Research publica revisões e estudos sobre neurociência, psicologia e psiquiatria. A decisão de dedicar uma edição aos avanços brasileiros em canabinoides e psicodélicos reforça o papel do país como referência nesse tema.
Para Renato Filev, pesquisador em neurociências e política de drogas, o convite simboliza o reconhecimento da inovação científica nacional:
“O Brasil sempre foi vanguarda na pesquisa com psicodélicos e canabinoides. Há muito tempo o país é referência nesse tipo de estudo.”
Filev destaca que essa edição da Progress in Brain Research é mais do que uma homenagem: um marco na consolidação da pesquisa brasileira em neurociências. Os artigos mostram como substâncias antes estigmatizadas podem se tornar aliadas na promoção da saúde mental e do bem-estar.

O volume recebeu o título The Times They Are A-Changin’: On Cannabinoides and Psychedelics’ Therapeutic Potential and Social Impact, uma referência direta à canção clássica de Bob Dylan. Assim como a música marcou transformações culturais e comportamentais nos anos 1960, o título simboliza as mudanças de paradigma que vêm ocorrendo na ciência: compostos da Cannabis e os psicodélicos hoje em dia despertam grande interesse pelo potencial terapêutico e impacto positivo na saúde mental.
Canabinoides e psicodélicos: sinergias terapêuticas
Filev explica que, apesar de atuarem por caminhos diferentes, canabinoides e psicodélicos compartilham efeitos terapêuticos semelhantes.
“Em termos de mecanismo de ação, tanto os canabinoides quanto os psicodélicos têm similaridades: podem apresentar efeito anti-inflamatório, analgésico e neuroprotetor. Então, pode haver uma sinergia no tratamento.”

Renato Filev foi um dos curadores da edição 296 da Progress in Brain Research
Segundo ele, os psicodélicos podem produzir mudanças profundas e duradouras após uma única experiência:
“Os psicodélicos podem ter ação satisfatória com uma intervenção. A pessoa pode ter efeitos residuais, pós-agudos, por um tempo. Eles atuam na perspectiva de uma ruptura, porque a pessoa pode ser afetada pela experiência a tal ponto de se transformar a partir dela.”
Já os compostos da Cannabis, de uso mais contínuo, têm papel importante em terapias integrativas e de longo prazo:
“Os canabinoides podem ser adjuvantes terapêuticos numa prática integrativa, onde o paciente e suas singularidades estão no centro do tratamento.
Podem reduzir sintomas como dores e inflamações, melhorar o apetite, o sono, o humor e o bem-estar. Assim, a pessoa pode se reabilitar de uma maneira menos penosa.”
Três estudos que merecem atenção na Progress in Brain Research
Entre os artigos publicados na edição especial, Filev destacou três pesquisas como especialmente relevantes:
- Chemical diversity, receptor binding affinity, and pharmacology of phytocannabinoids: Insights into neuronal mechanisms (de Claudio Marcos Queiroz, Laura de Oliveira Koren, Camila Rayane Pereira da Silva, Sidarta Ribeiro e Sérgio Ruschi Bergamachi Silva) — explora a diversidade química dos fitocanabinoides e como eles se ligam aos receptores do sistema nervoso, ajudando a compreender os mecanismos neuronais que explicam seus efeitos terapêuticos.
- Cannabinoid treatment impacts adaptive behavior in autism patients and caregivers’ mental health: A prospective real-life cohort study (de Kelly Álvares Guimarães, Letícia Perígolo Jorge, Ana Luiza de Oliveira Resende, Estácio Amaro da Silva Junior, Arthur Melo, Wilson da Silva Lessa Júnior e Guilherme Nogueira M. de Oliveira) — avaliou o uso de canabinoides em pessoas com autismo, observando benefícios tanto no comportamento dos pacientes quanto na saúde mental dos cuidadores.
- Green light to sleep: Does cannabis work for insomnia? A case report and brief review (de Sérgio Mota-Rolim, Pedro da Costa Melo, Victor Vilhena Barroso, Eric Joel Ferreira do Amaral, John Fontenele Araujo e Sidarta Ribeiro) — reúne evidências e relatos de caso sobre o uso da Cannabis no tratamento da insônia, discutindo como os compostos da planta podem ajudar a regular o sono e melhorar a qualidade de vida.

Como acessar a edição especial da Progress in Brain Research
O Volume 296 da revista Progress in Brain Research, intitulado “The Times They Are A-Changin’: On Cannabinoides and Psychedelics’ Therapeutic Potential and Social Impact”, reúne estudos brasileiros sobre os aspectos neurobiológicos, terapêuticos e sociais dessas substâncias.
O acesso ao conteúdo completo pode ser adquirido no site da revista por U$ 31,50, no endereço: sciencedirect.com/bookseries/progress-in-brain-research
Uso terapêutico: o que é permitido no Brasil
O uso de psicodélicos em tratamentos de saúde ainda não tem regulamentação no Brasil, sendo permitido apenas em pesquisas científicas. Por outro lado, o uso terapêutico de compostos da Cannabis é legal desde 2015. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autoriza médicos habilitados a prescreverem canabinoides para seus pacientes de forma legal e segura.
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