A trajetória da Dra. Cinthia Valadão na medicina é marcada por escuta, coragem e reinvenção. O que começou como uma tentativa despretensiosa — e de certa forma solitária— de aliviar o sofrimento de três pacientes infantis com condições severas, se transformou em um novo jeito de exercer a medicina. Hoje, a Cannabis não é apenas uma ferramenta em sua prescrição. É a base de sua prática clínica e uma importante via de conexão com os pacientes.
“Eu trabalhava em um hospital infantil de referência em saúde mental, em Vila Velha, Espírito Santo. Estava diante de casos que não respondiam a nada — crianças com múltiplas internações, convulsões diárias, quadros graves com agitação e risco iminente à vida”, lembra. Foi nesse cenário, ainda rodeado de tabus e desconhecimento, que ela ouviu falar sobre a Cannabis medicinal. “A equipe estava reticente. Mas diante da ineficácia dos tratamentos convencionais, eu pensei: e se?”
Ela lembra claramente dos três primeiros pacientes que levaram a essa virada. Entre eles, Bia — uma adolescente que convulsionava até 20 vezes por dia, mesmo com o uso de quatro anticonvulsivantes. “Ela vivia no pronto-socorro, cheia de traumas por quedas. Eu expliquei à família que nunca tinha prescrito Cannabis antes, mas que queria tentar. E eles confiaram”, conta.
A resposta foi imediata. A frequência das convulsões caiu drasticamente. A jovem passou a ter uma rotina mais segura, e a médica, uma certeza: “Foi como se uma luz tivesse acendido. Eu pensei: esse tratamento funciona, e eu preciso entender por quê”.
Do encantamento à especialização
O passo seguinte foi buscar formação. Cinthia se matriculou na pós-graduação em Medicina Endocanabinoide, onde teve contato com conceitos e evidências que até então lhe eram desconhecidos. “Minha formação tradicional não abordava nada disso. Aquilo tudo foi abrindo a minha visão para um campo inteiro da medicina que me parecia invisível”, relata.
Ela passou a frequentar congressos da área e a estudar com afinco. “O que me tocou profundamente foram os relatos clínicos. Casos de pacientes que haviam encontrado na Cannabis um respiro. Foi ali que eu soube: é com isso que quero trabalhar”.
Uma abordagem que escuta e ajusta
Hoje, Cinthia atua majoritariamente com pacientes que buscam tratamento com Cannabis — muitos deles por indicação ou após acompanharem seu conteúdo nas redes sociais. “Eles me procuram pela Cannabis, não pela psiquiatria em si. E isso já mostra como a percepção sobre o tratamento está mudando. A mente das pessoas está mais aberta, menos atravessada por preconceitos”, observa.
A prática clínica dela é marcada por um acompanhamento próximo, semanal no início, e com ajustes regulares na dosagem e formulação. “Não existe prescrição única. Cada paciente precisa de uma leitura cuidadosa, porque o Sistema Endocanabinoide é altamente individual. Eu uso questionários, escuto, observo. E quando há adesão ao tratamento por parte do paciente, os resultados vêm”.
A maior demanda? Transtornos de ansiedade. “Eu mesma sou TDAH e ansiosa, então entendo bem o que meus pacientes sentem. Não conheço ansiolítico melhor que a Cannabis. Em crises de pânico, oriento que o paciente leve o óleo na bolsa e use sublingual, como um SOS. Os resultados são excelentes”.
Os quadros de neurodivergência também compõem uma fatia importante da sua atuação clínica. Crianças e adultos com TDAH e autismo têm, segundo a médica, respostas importantes à Cannabis no controle da agitação, agressividade, oscilações de humor e dificuldades de sono.
“São pacientes que, muitas vezes, recebem estímulo, fazem todas as terapias, mas parece que algo ainda não está engrenado. A Cannabis ajuda nesse encaixe. Eu vejo crianças que não conseguiam se concentrar conseguindo desenvolver funções cognitivas que antes pareciam inatingíveis”, relata.
Ainda de acordo com a médica, nos quadros de dor crônica, como fibromialgia, o uso do THC — introduzido de forma gradual — tem ampliado a resposta terapêutica e reduzido a necessidade de polifarmácia. “O mesmo vale para insônia, algumas fases da depressão e até para estratégias de redução de danos em casos de uso problemático de álcool ou outras substâncias”, diz.
“A Cannabis é como o ferro para quem tem anemia”
Com o passar do tempo, o olhar da Dra. Cinthia sobre a Cannabis foi se expandindo. Para além de uma ferramenta terapêutica, ela passou a enxergar a substância como um componente essencial à saúde humana.
“A Cannabis é algo que o nosso corpo precisa, independentemente de qualquer patologia. Hoje, eu não vejo a Cannabis como uma linha de tratamento. Ela é essencial para manter a homeostase — o equilíbrio interno do organismo — que é justamente a principal função dos canabinoides. O Sistema Endocanabinoide, como já se sabe, regula todos os outros sistemas do corpo. Por isso, não vejo a Cannabis apenas como um tratamento, mas como um suplemento.”, afirma.
Para ilustrar, ela usa uma analogia bastante interessante, que costuma compartilhar com os pacientes:
“Quando alguém tem anemia por falta de ferro, a gente repõe ferro. Com a Cannabis é parecido. Nosso corpo produz endocanabinoides, mas a planta – com seus canabinoides semelhantes – ajuda a abastecer esse sistema, evitando falhas e permitindo que ele funcione bem.”
A médica acredita que, no futuro, a Cannabis poderá ocupar um espaço ainda mais amplo dentro da medicina preventiva. “Ela regula os outros sistemas do corpo. Não é só para tratar sintomas, mas para preservar o equilíbrio interno. Eu acredito, sim, no uso profilático da Cannabis.”
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Um tratamento que reconfigura o cuidado
Dentre os muitos casos que marcaram sua trajetória, Bia segue sendo a lembrança mais simbólica — não apenas por ser a primeira, mas por ter mostrado na prática que outra medicina era possível. “Ela estava em sofrimento, mesmo com tantas medicações. E a Cannabis mudou tudo. Ver isso acontecer foi transformador para mim”.
Outro episódio marcante foi o de um jovem de 19 anos que, após iniciar o tratamento com Cannabis para o autismo, surpreendeu os próprios terapeutas com avanços inesperados. “A mãe não contou para ninguém que ele estava usando Cannabis. Em três semanas, os profissionais começaram a perguntar o que havia mudado. Ele estava mais conectado, mais funcional. A Cannabis potencializou o que já estava sendo construído com as terapias. Foi muito emocionante acompanhar”, conta.
Com um consultório lotado e uma agenda cheia de retornos, a Dra. Cinthia afirma que hoje se sente mais realizada na medicina do que nunca. “Quando a gente trabalha com Cannabis, a gente se apaixona. Porque é sobre aliviar a dor de verdade. E não tem nada mais gratificante do que ver o paciente resgatar qualidade de vida”.
Importante!
No Brasil, a prescrição de Cannabis medicinal segue normas específicas e deve ser feita por médicos capacitados, com base em uma avaliação criteriosa e individualizada. Por isso, é fundamental buscar profissionais que compreendam a complexidade do Sistema Endocanabinoide e saibam integrar esse recurso de forma segura e personalizada ao cuidado do paciente.
Se você busca entender como a Cannabis pode se encaixar no seu tratamento, o acompanhamento especializado é o caminho mais seguro. Médicos como a Dra. Cinthia Valadão, estão preparados para orientar esse processo de maneira ética, responsável e centrada no bem-estar do paciente. Acesse a nossa plataforma e agende sua consulta!