Gabriely Silva Faria tinha 13 anos quando começou a sentir uma dor no peito que ninguém soube explicar. “Era uma dor no tórax, muito forte, e eu vivia indo para o pronto atendimento. Sempre diziam que era frescura, que criança de 13 anos não tinha infarto”, lembra. Entre injeções de dipirona e retornos frustrados ao hospital, foram meses de incerteza. “Eu ia praticamente a cada três dias. Voltava pra casa do mesmo jeito: com dor.”
A resposta só veio depois de quase sete meses, quando a mãe decidiu procurar um médico da família. Ele foi o primeiro a desconfiar que o que a menina sentia não era “coisa da cabeça”. “Ele disse que tinha recebido uma revista falando sobre fibromialgia, e que meus sintomas pareciam com o que estava ali.”
Receber o diagnóstico de fibromialgia não significou entender como viver com ela
Era 2013, e quase ninguém falava sobre a doença — uma condição crônica que provoca dores difusas e fadiga, muitas vezes confundida com distúrbios emocionais. Depois de uma bateria de exames, um reumatologista confirmou o diagnóstico. “Foi quando ele assinou o papel dizendo: é fibromialgia. Eu nem entendia direito o que aquilo queria dizer.”
O diagnóstico não trouxe alívio. Vieram os remédios, cada vez mais fortes. “Eu cheguei a tomar quase vinte por dia. Ficava dopada. Teve um dia que comecei a alucinar.” Aos poucos, a adolescência foi sendo substituída por uma rotina de limitações. “Os médicos mandavam eu parar de fazer tudo: não podia tomar banho de piscina, nem de rio, não podia jogar futsal. Queriam que eu vivesse como uma senhora. Mas eu era uma pré-adolescente.”
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Entre a dor e a frustração, Gabriely se rebelou. “Teve uma época em que eu simplesmente parei de tomar os remédios. Falei: não quero mais. Fico com a dor, mas não quero mais viver dopada.” O corpo, fragilizado, reagia com ainda mais intensidade. Vieram crises, internações e longos períodos de isolamento. “Eu me fechei muito. Tinha dor, ansiedade, depressão. Eu não conseguia sair de casa, socializar”
Foram onze anos tentando controlar o incontrolável. Até que, em 2024, uma conversa de família abriu uma brecha para o novo. “Uma prima minha conheceu a Dra. Rafaela Trevisan, médica que trabalha com Cannabis, e perguntou se poderia ajudar no meu caso. Meus pais tinham muito preconceito — meu pai tem 72 anos, minha mãe 57. Mas ele olhou pra mim e disse: vamos tentar. Era o último caso.”
Gabriely iniciou o tratamento com Cannabis medicinal em maio de 2024, sob acompanhamento da Dra. Rafaela.
“No primeiro mês, as dores já começaram a diminuir. Eu não sentia mais tanta dor, e consegui começar a reduzir os outros remédios.” O acompanhamento foi próximo, com ajustes de dosagem até alcançar equilíbrio. “A Dra. Rafaela sempre dizia que o objetivo era deixar a dor em nível dois, no máximo. E conseguimos isso em três meses.”
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Fibromialgia sob novos parâmetros: autonomia recuperada
A partir daí, a vida começou a mudar. O desmame da pregabalina — um dos medicamentos indicados para fibromialgia — foi feito aos poucos, até ser completamente suspenso. “Hoje não tomo mais pregabalina. E quando a dor aparece, um anti-inflamatório leve já resolve. Antes, nem morfina fazia efeito.”
Mais do que o controle da dor, a Cannabis devolveu a Gabriely a sensação de autonomia. “Eu consigo fazer tudo hoje. Se eu quiser ir para o crossfit, eu vou. Meu corpo sente a fadiga normal, mas não aquela dor absurda que me impedia de viver.”
A transformação foi tamanha que atravessou o campo pessoal e chegou ao profissional. Formada em Psicologia, Gabriely passou a trabalhar com a própria médica que a tratou. “No meio do tratamento, a Dra. Rafaela perguntou se eu queria trabalhar com ela. A gente tem uma troca muito próxima. Eu vejo o cuidado que ela tem com cada paciente, de entender a origem da dor, e não só medicar.”
Cannabis medicinal redefine o convívio com a fibromialgia
O olhar que antes era de desconfiança também mudou dentro de casa. “Meus pais tinham muito preconceito. Hoje, meu pai fala sobre o tratamento pra todo mundo. Ele mesmo pensou em usar, porque teve câncer de próstata. Chegou a considerar o tratamento para aliviar as dores da cirurgia.”
A relação com a Cannabis, antes cercada de tabu, se transformou em aprendizado. “É um medicamento, uma tentativa de dar conforto ao paciente. Eu sempre digo: dá uma chance, se informa. Informação é a melhor arma contra o preconceito.”
Entre lembranças de uma infância marcada pela dor e o presente mais leve, Gabriely tenta nomear a diferença que o tratamento trouxe. “Antes, eu só existia. Hoje, eu vivo. Eu acordo disposta, tenho vontade de fazer coisas simples — e isso é uma conquista enorme pra quem já passou anos deitada sem conseguir se mover.”
Ela sabe que a fibromialgia não desaparece. “Ainda sinto dor quando algo me abala muito, emocionalmente ou fisicamente. Mas agora é diferente. A dor não me define mais.”
No equilíbrio delicado entre ciência, empatia e cuidado, Gabriely encontrou algo que buscava desde a infância: ser levada a sério. “Eu vivi muitos anos ouvindo que a dor era frescura. Hoje, eu sei que ela existe — mas também sei que é possível colocar um limite nela.”
Importante!
Se você ou alguém próximo está considerando o uso de medicamentos à base de canabinoides, é essencial buscar orientação de um médico. No Brasil, esses tratamentos são autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desde que prescritos por profissionais com registro ativo. A plataforma de agendamento do Portal Cannabis & Saúde facilita o contato entre pacientes e médicos especializados, garantindo um acesso seguro e personalizado às terapias.
O acompanhamento médico é indispensável. A Dra. Rafaela Trevisan, prescritor(a) de Cannabis, oferece cuidado individualizado, acompanhando cada paciente de perto e ajustando o tratamento às necessidades específicas de cada caso.