Por sete anos, a dependência química fez parte da vida de Vinícius Gonçalves. A cocaína entrou em sua vida aos 18 anos e, não importa o que tentasse, nada conseguia ajudá-lo a se livrar do vício. “Isso atrapalhou muito a minha vida, Eu tentava parar, fui internado, e nada resolvia.”
Antes disso, ainda na adolescência, Vinícius havia experimentado o uso da Cannabis de forma recreativa, mas não lhe fez bem. “Desenvolvi ansiedade, tive uns ataques de pânico e não gostei muito.”
Até que, já aos 25 anos, começou a ver nas notícias que a Cannabis possui propriedades medicinais. “Eu comecei a fumar, ainda de forma recreativa, e foi o que me fez parar com a cocaína. A Cannabis me tirou da dependência química.”
“Foi algo que me ajudou muito e eu comecei a pesquisar tudo que envolvia o uso medicinal e fui atrás. Eu passei com diversos médicos, mas vi que era um tabu muito grande ainda. Os médicos não sabiam sobre o assunto.”
Sem conseguir o tratamento legalizado, seguiu recorrendo ao mercado ilegal. “Até os 29 anos, eu usei somente de forma recreativa. A Cannabis que você compra do tráfico é de péssima qualidade. Não conseguia me tratar direito.”
Sai dependência química, entra ansiedade e depressão
Logo, porém, os sintomas da adolescência retornaram. “Fui diagnosticado com depressão, ansiedade e crise do pânico. Eu não conseguia mais sair da cama e estava me prejudicando bastante no trabalho e na vida social.”
“Tomei muito antidepressivo e ansiolítico. Até resolveu no início, mas depois parou de fazer efeito. Tomava um monte de remédio e não estava tendo qualidade de vida mesmo assim.”
Foi quando decidiu retomar a busca pelo tratamento canabinoide com o devido acompanhamento médico e produtos certificados com qualidade de padrão farmacológico e procedência legal. Marcou uma consulta com a médica de família e prescritora de Cannabis Elisa Giglio.
“Eu pude fazer o tratamento certinho e, basicamente, a Cannabis me salvou em todos os aspectos da minha vida. O óleo devolveu totalmente a minha qualidade de vida. Parei com todos os outros remédios e hoje faço tratamento somente com Cannabis.”
Ilegal
Esse poderia ser um final de história feliz para Vinícius, hoje aos 31 anos, não fosse o preconceito e falta de informação que ainda imperam no Brasil. “Ano passado, fui parado em uma abordagem policial. Estava com tudo certinho, documentos, autorização da ANVISA, receita médica, mas eles não quiseram nem ver nem saber de nada.”
“Eu tinha tudo autorizado dentro da lei, mas os policiais não seguiram a lei. Na delegacia, o delegado também não quis saber e eu fui parar na cadeia. Quiseram me enquadrar como tráfico. Passei 60 dias preso, até que o advogado conseguiu um habeas corpus.”
Vinícius ainda aguarda uma audiência onde espera ter o direito à ampla defesa, e que lhe foi negado anteriormente, atendido. “Eu vou conseguir mostrar todos os documentos para a juíza que mostra que a Cannabis que eu tinha estava dentro da lei.”
A luta não para dependência química
“Foi uma situação bem complicada, mas isso não tirou meu lado ativista. Luto para que, pelo menos o uso medicinal, seja liberado. Tento ajudar bastante pessoas que estão perdidas com o contato de médicos, associações, empresas importadoras. Como já pesquisei bastante sobre isso, tenho um certo conhecimento.”
“É bastante gratificante quando eu consigo ajudar, por exemplo uma criança com autismo. Pessoas que tomavam um monte de remédio e com a Cannabis, hoje tem qualidade de vida.”
Para Vinícius, o acesso ao tratamento canabinoide é ter o direito à saúde atendido. “Tenho laudo médico comprovando que preciso da Cannabis para levantar da cama e fazer minhas atividades básicas. É meu direito à saúde e eu luto diariamente para não perder esse direito. É complicado não ter um direito básico atendido.”
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