“Na área da saúde mental a Cannabis tem um potencial maravilhoso, principalmente por conta do baixo risco de efeitos colaterais e da alta tolerabilidade dos pacientes com a Cannabis. É uma alternativa muito válida. Antes era mais para pacientes refratários, mas hoje não espero o paciente ficar refratário para prescrever Cannabis”, explica logo no início da nossa conversa a médica psiquiatra Dra. Lorena Abrão Silva, CRM: 19361.
A profissional atua há mais de cinco anos na prescrição de fitocanabinoides como o CBD e o THC para saúde mental. Ela despertou seu interessar no tema quando a Cannabis ganhou visibilidade no Brasil com os primeiros pacientes que utilizavam em tratamentos para epilepsia. Decidiu se aprofundar em cursos e estudos. E, ainda bem, foi um caminho sem volta.
Na busca por conhecimento, Dra. Lorena, assim como outros médicos, buscou conhecimento, primeiramente, em cursos realizados por colegas. Em seu caso, o médico Dr. João Carlos Normanha, conterrâneo da profissional, foi um dos nomes que ela teve como referência para começar estudos na área.
Desde então, a Dra. Lorena vem construindo uma prática clínica voltada a pacientes com diferentes perfis, em especial aqueles que sofrem com ansiedade, insônia e quadros de dor.
Segundo a especialista, entre os diagnósticos que mais se beneficiam estão as demências, incluindo Alzheimer, Parkinson e demência vascular.
“Mas não só demências. Eu gosto muito de tratar ansiedade e insônia, basicamente ansiedade, insônia e dor. É o perfil da maioria dos meus pacientes”, explica.
A experiência acumulada nesses anos fez a médica moldar um olhar amplo e estratégico sobre os fitocanabinoides.
O conhecimento necessário para a escolha do melhor produto à base de Cannabis para cada paciente
Na prática clínica, a Dra. Lorena afirma que prefere trabalhar com formulações completas para seus pacientes.
“Posso dizer que 99% das minhas prescrições são de óleos full spectrum. Geralmente eu inicio com aquele full spectrum de 0,3% de THC e vou ajustando conforme seja necessário”, detalha.
Já o Canabidiol isolado (CBD puro) fica reservado apenas a casos específicos: “Eu deixo para prescrever o Canabidiol isolado apenas para pacientes psicóticos, esquizofrênicos, que realmente não podem ter contato com o THC”.
Para a médica, o potencial terapêutico da Cannabis medicinal na psiquiatria vai muito além de um recurso alternativo
“A Cannabis tem um potencial maravilhoso, principalmente por conta do baixo risco de efeitos colaterais e da alta tolerabilidade dos pacientes”, afirma. Se antes os fitocanabinoides eram vistos apenas como recurso para pacientes refratários, hoje ela já os considera logo na primeira abordagem, dependendo do perfil de cada pessoa.
O revolucionário Sistema Endocanabinoide para a medicina e também para a saúde mental
O movimento da médica se apoia em um conhecimento aguçado e científico. Porém, ainda pouco difundido: o sistema endocanabinoide.
“O entendimento do SEC representa uma revolução. Foi descoberto na década de 80, é um sistema muito jovem, mas que é altamente regulatório, modulador de metabolismo, da inflamação e neuroprotetor. Não ter esse conhecimento na área da saúde é ficar para trás”, defende.
A importância do SEC para a saúde mental
Outro ponto defendido pela Dra. Lorena é que alguns transtornos psiquiátricos estão relacionados a desbalanços desse sistema, o que poderia explicar a baixa resposta a medicamentos convencionais.
Comparando os efeitos da Cannabis com os psicofármacos tradicionais, a Dra. Lorena aponta diferenças marcantes.
“Os medicamentos psiquiátricos demoram em média de 10 a 15 dias para começar a fazer efeito. Já a Cannabis pode demorar um pouco mais, mas em contrapartida tem muito menos efeitos colaterais. O paciente tolera de forma muito mais tranquila essa graduação de dose”.
Para garantir adesão, ela mantém proximidade com os pacientes, oferecendo suporte entre consultas diretamente via seu WhatsApp.
Cannabis, psiquiatria, jornalismo e a nossa jornada para o fim do preconceito
Outro ponto que tocamos na nossa conversa foi sobre o preconceito tanto com a Cannabis como com a própria busca pela saúde mental. Segundo a médica, de fato, está já foi uma grande barreira, mas agora começa a perder força.
“Hoje em dia está muito mais tranquilo. As pessoas têm mais informação, mas claro que ainda existe resistência, tanto em procurar um psiquiatra quanto em aceitar um tratamento com canabinoides”, comenta.
Ainda assim, ela percebe que o acesso à informação vem ampliando a confiança dos pacientes na terapia.
Quando olha para o futuro, a médica é otimista. “Eu penso que em alguns transtornos pode ser que sim, a Cannabis seja a primeira escolha. Para transtornos ansiosos de leve a moderados e para tratamento de insônia, por exemplo, são medicamentos muito mais tolerados e naturais. Com o tempo, podem ganhar espaço como primeira linha terapêutica, com toda certeza”, finaliza.
Importante!
No Brasil, o uso da Cannabis medicinal é permitido somente com prescrição de um profissional de saúde habilitado. Quem deseja iniciar um tratamento com canabinoides deve buscar orientação médica. Em nossa plataforma, mais de 300 profissionais estão disponíveis para atendimento e agendamento de consultas.