Quem acompanha o universo da Cannabis já deve estar familiarizado com os canabinoides, principalmente o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC). No entanto, outros compostos têm atraído atenção crescente por seus efeitos terapêuticos.
Muito se fala no potencial da tetrahidrocanabivarina (THCV) para ajudar na redução de peso e no controle do apetite, mas seus efeitos ainda eram pouco conhecidos. Recentemente, um estudo clínico trouxe novos dados sobre esse composto, avaliando sua segurança, os efeitos percebidos pelos participantes e o impacto em funções cognitivas em adultos saudáveis.
Tetrahidrocanabivarina: o que é e como age no organismo
A tetrahidrocanabivarina é um canabinoide encontrado em pequenas quantidades na planta Cannabis. Embora seja quimicamente semelhante ao THC, sua ação no organismo é diferente.
- Em baixas doses, pode reduzir o apetite e até suavizar alguns efeitos do THC.
- Em doses altas, pode gerar sensações parecidas às do THC, mas de forma mais leve.
Essa característica dose-dependente faz do canabinoide um composto de grande interesse, já que os efeitos variam bastante conforme a quantidade administrada.
Estudo clínico: como os pesquisadores testaram a THCV
Pesquisadores conduziram um ensaio clínico em duas fases, envolvendo 21 voluntários saudáveis:
- Fase 1: três participantes receberam doses crescentes de 12,5 mg até 200 mg de tetrahidrocanabivarina, para avaliar a segurança.
- Fase 2: outros 18 voluntários receberam, em dias diferentes, placebo ou doses únicas de 12,5 mg, 25 mg, 50 mg, 100 mg e 200 mg. Depois, foram acompanhados por até oito horas.
Durante o estudo, os cientistas monitoraram sinais vitais, exames laboratoriais, efeitos subjetivos relatados e desempenho em testes de atenção e memória.
O que os cientistas observaram
O estudo demonstrou que a tetrahidrocanabivarina tem um perfil de segurança favorável em adultos saudáveis, mesmo em doses altas. Além disso, surgiram indícios preliminares de que ela pode melhorar a atenção e aumentar a sensação de energia em determinadas concentrações.
Os principais resultados foram:
- Segurança: em doses até 200 mg, a THCV foi bem tolerada. A maioria dos efeitos adversos foi leve, como humor eufórico.
- Atenção: doses de 12,5 mg, 25 mg e 200 mg melhoraram o desempenho em testes de atenção sustentada.
- Semelhanças com THC: nas doses mais altas (100 mg e 200 mg), alguns participantes relataram efeitos da substância parecidos com os efeitos psicoativos do THC. Apesar disso, não houve prejuízo cognitivo.
- Exames de urina: quase todos os voluntários testaram positivo para THC após ingerir tetrahidrocanabivarina, mesmo sendo um produto livre de THC, indicando reação cruzada em testes toxicológicos.
Apesar dos resultados animadores, os pesquisadores reforçam que são dados iniciais. Estudos maiores e de longo prazo ainda são necessários.
THCV e CBD: dupla promissora para metabolismo e bem-estar
Outro estudo, realizado no início de 2025, investigou a combinação de canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabivarina (THCV) como estratégia complementar para perda de peso e equilíbrio metabólico. Os participantes receberam proporções similares dos dois canabinoides em um produto transdérmico aplicado na mucosa oral.
Os resultados foram promissores, houve redução da circunferência abdominal, da pressão arterial sistólica e dos níveis de colesterol total e LDL. A dose mais eficaz foi de 16 mg de THCV e 20 mg de CBD, sugerindo benefícios no tratamento de síndromes metabólicas, perda de peso e controle glicêmico.
Em transmissão ao vivo no canal no YouTube do Cannabis & Saúde, a médica Paula Vinha destacou que a combinação com o CBD traz ganhos também para a saúde mental, tornando o tratamento mais eficaz.
Paula Vinha, médica e pesquisadora
“THCV tem efeito como supressor do apetite e metabólico. Mas como ele é muitas vezes associado ao CBD, acaba também atuando na ansiedade”, afirmou a Dra. Paula Vinha.
Como iniciar um tratamento com tetrahidrocanabivarina
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autoriza o uso de medicamentos à base de THCV dentro da regulação que já existe para produtos derivados de Cannabis. Pacientes interessados em explorar os benefícios desse canabinoide devem procurar sempre orientação médica. Desse modo, é possível garantir a segurança e a eficácia no tratamento.
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