A fibromialgia continua sendo um desafio para a medicina, especialmente por afetar diversas áreas do corpo ao mesmo tempo. Os sintomas gastrointestinais estão entre as queixas mais comuns relatadas por quem convive com a doença.
Além da dor crônica generalizada, pacientes podem apresentar inchaço, dor abdominal, queimação no estômago, gases e alterações no hábito intestinal.
Um estudo clínico publicado na revista científica Clinical and Experimental Rheumatology trouxe resultados promissores sobre o uso de um medicamento oral à base de Cannabis rico em ∆9-tetrahidrocanabinol (THC) para o alívio desses sintomas.
A pesquisa acompanhou, durante seis meses, 60 pacientes com fibromialgia — a maioria mulheres, com idade média de 58 anos. Todas apresentavam sintomas gastrointestinais associados, como síndrome do intestino irritável (SII) e dispepsia funcional (DF) — dois tipos de distúrbios da interação intestino-cérebro, bastante comuns entre pessoas com fibromialgia.
Fibromialgia e sintomas gastrointestinais: qual a relação
A fibromialgia é caracterizada principalmente por dor muscular difusa, fadiga e sono não reparador. Embora afete o sistema nervoso central, muitas pacientes também relatam desconfortos no sistema digestivo.
Estudos anteriores apontam que entre 30% e 70% das pessoas com fibromialgia têm SII e outros distúrbios gastrointestinais. Isso se deve à hipersensibilidade do sistema nervoso, que interfere na forma como o corpo processa estímulos intestinais.

Essa conexão alterada entre cérebro e intestino contribui para o surgimento de sintomas como:
- Dor epigástrica (na “boca do estômago”)
- Queimação gástrica
- Sensação de estufamento
- Excesso de gases
- Evacuações irregulares
Como foi feito o tratamento com Cannabis
Os 60 participantes iniciaram o uso de um medicamento oral à base de Cannabis com alto teor de THC (19%) e menos de 1% de canabidiol (CBD). A dose foi aumentada gradualmente, de 1 até 20 gotas por dia, conforme a tolerância e resposta individual.
Os sintomas foram avaliados por meio de dois questionários padronizados:
- FIQR (Fibromyalgia Impact Questionnaire) — avalia a gravidade da fibromialgia
- GSRS (Gastrointestinal Symptom Rating Scale) — mede a intensidade e a frequência dos sintomas gastrointestinais
As avaliações ocorreram em três momentos: início do tratamento, após 3 meses e após 6 meses.
Os resultados do tratamento
Cerca de 75% dos participantes apresentavam ao menos um distúrbio gastrointestinal funcional:
- 16% tinham apenas síndrome do intestino irritável
- 28% apenas dispepsia funcional
- 31%, ambos
Após 3 e 6 meses de tratamento, houve redução significativa na dor abdominal, distensão e inchaço, além de melhora na dor epigástrica e queimação.
O indicador FIQR caiu de 80 pontos (estado muito grave) para 56 ao fim do tratamento, indicando melhora geral no impacto da fibromialgia. Nesse sentido, 8% dos pacientes chegaram à remissão completa dos sintomas após seis meses.
Por outro lado, sintomas como saciedade precoce e plenitude após refeição não apresentaram melhora. A frequência e consistência das evacuações permaneceram estáveis, sugerindo que o THC age principalmente na percepção da dor.
Os efeitos adversos foram raros e leves. Apenas três pacientes interromperam o uso devido à dificuldades para lidar com a sonolência ou efeitos psicoativos. Porém, no geral, o medicamento foi bem tolerado.

Como os canabinoides agem no organismo
De acordo com os autores do estudo, os benefícios observados na fibromialgia e nos sintomas gastrointestinais estão ligados à ativação do sistema endocanabinoide — uma rede de receptores presente em todo o corpo, incluindo cérebro, intestino e sistema imunológico.
Os principais receptores são:
- CB1 — localizado no sistema nervoso e trato digestivo. Atua na modulação da percepção da dor e funções como motilidade e secreção gástrica.
- CB2 — encontrado em células do sistema imunológico e na mucosa intestinal. Tem efeito anti-inflamatório e regula a sensibilidade visceral.
O THC, composto da Cannabis predominante no medicamento usado no estudo, age como agonista parcial desses receptores, promovendo:
- Redução da dor
- Diminuição da inflamação
- Menor sensibilidade intestinal
Esses efeitos ajudam a explicar a melhora em sintomas como dor abdominal, queimação e distensão — sem interferir diretamente no funcionamento do intestino.
THC: um aliado no cuidado da fibromialgia
A maioria dos estudos sobre o uso dos compostos da Cannabis no tratamento da fibromialgia focava principalmente no CBD. Pesquisas anteriores mostraram que o canabidiol pode ajudar a reduzir a dor crônica, diminuir ansiedade, melhorar o sono e aliviar sintomas da depressão — todos aspectos frequentemente associados à fibromialgia. Agora, este estudo traz uma nova perspectiva ao destacar os efeitos terapêuticos do THC em alguns sintomas associados à fibromialgia, especialmente os gastrointestinais.
Embora ainda sejam necessários mais estudos para entender com clareza o papel individual de cada canabinoide, os resultados reforçam a ideia de que o THC, quando utilizado de forma controlada e com orientação médica, pode ser um aliado no tratamento da fibromialgia.
Isso abre caminho para abordagens terapêuticas que coloquem o paciente no centro do cuidado, levando em conta os diferentes perfis e necessidades individuais.
Como iniciar um tratamento com medicamentos à base de Cannabis para fibromialgia
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